Morei durante toda adolescência numa rua sem saída.Parecia uma vila, mas as casas eram diferentes em sua arquitetura, o que para nós, a moçada do lugar, não tinha qualquer importância.Éramos uma turminha grande e bagunceira.A rua era nossa, de fato;nosso palco, nosso ginásio, nosso salão de festas, nossa estrada de tijolos dourados.Nas férias, os dias rolavam de arteirices em arteirices.Fazíamos teatrinhos pra criançada se divertir. Pura desculpa, o que nós, as mocinhas queríamos, era poder ter licença das mães para nos maquiarmos e calçarmos os saltos delas. Tinha dias que resolvíamos brincar de restaurante e deixávamos as mães loucas com nossas surrupiadas de ingredientes da cozinha pra fazermos invenções de doces mirabolantes que os pequenos eram obrigados a comer e ai deles se não... Todo fim de tarde rolavam as partidas de queimada ou vôlei ou pique-bandeira,com todo mundo participando, pequenos e grandinhos, o que sempre produzia alguns ralados em uns e outros. Ao final havia farta distribuição de limonada geladinha pra geral.
Hora da janta.Todo mundo pra casa. Noitinha de verão, roupinha arrumada, vitrolinha e LPs rodando Beatles, Stevie Wonder, Mamas and Papas, e estava formado o bailinho de garagem, mas só até as 22h, decreto dos pais e não havia discussão.
A rua era sem saída, mas só no físico, porque na existência era caminho direto pras estrelas.
*****
Nossa rua dormia pouco
mal continha a saudade
dos risos, da torcida,
dos passos, correrias,
gritos de alegria,
tons vibrantes,
sons bailados,
e boa energia,
de todos os
sonhos dourados.
Não há sono que se
achegue e consiga
acomodar, uma rua
tão amada, vivida
por sua gente
por cada traçado,
por cada espaço,
início, meio e final,
casa alta,casa baixa,
bate-papo de varal.
Desconfio que à noite
ela fazia um acordo
com os ares do luar
pedia como favor
não se estendessem
por tempo maior
do povo descansar,e
tão logo visse o dia
fosse pro outro lado
deixando a vida voltar.
(Calu)
*****
Imagem: minha ( rua de Praga)
Calu, deu pra sentir a alegria de tua adolescência através de tuas palavras.
ResponderExcluirEu fui muito feliz na minha adolescência, e ao te ler fiz uma viagem ao meu passado.
Quanto à tua poesia, que coisa mais linda!!
Beijos com carinho e o desejo de um delicioso final de semana.
Que doce, terno, lindo, emocionante... Me trouxe lembranças da infância, de quando a escadaria da minha casa era minha também... tempos bons, menos muros, mas brincadeiras, risos, amarelinha, queimado, pega-pega e nossas mães gritando para a gente voltar para dentro de casa as cinco e não pegar sereno.
ResponderExcluirQuanta melancolia me deu Calú, quanta doçura. Obrigada, esse texto é um presente para o coração.
Que maravilhosa rua essa e acredito que é desde lá que a poesia está em ti! Lindo te ler.
ResponderExcluirSaudades das brincadeiras,namoricos,não?
Lindo!
ADOREI, como sempre, passar aqui! beijos,tudo de bom,lindo fds! chica
*Querida CALU, tive boas ruas na minha infância e na minha
ResponderExcluiradolescência ! Mas, essa sua, ganha longe dessas minhas !!!
Menina, fiquei lendo este teu texto e imaginando tudo :
o teatro para as crianças menores, o restaurante, o bailinho ...
Época SAUDáVEL, divertida, tranquíla !!! Hoje as crianças não têm
nem rua, nem criança , nem pais !!! Hoje, a maioria, tem alguém
dentro de casa - ou ninguém !!! O.O - e telas : de televisão,
de computador, de tablet, de celular, de vídeos-game ... telas !!!
Triste isto.
*Calu, tenhas um ótimo final de semana ao lado de todos
os seus !
*Fiques com Deus.
*Um abraço.
Que saudade, Calu...
ResponderExcluirLinda poesia.
Morei duas vezes em beco na adolescência. Era chamado "Vai-Vorrrrta".
E com direito a via férrea no final, amo trens.
Pena que eu trabalhava 10 h por dia e estudava à noite.
Beijinho saudoso.
Que especial uma rua sem saída ou com saída para as estrelas e sonhos e arteirices!
ResponderExcluirAté escutei corda batendo no chão, mãe chamando menino...
Lindo.
Beijo
Calu
ResponderExcluirEncantadora sua poesia.
Eu passei a minha infância no interior do Paraná.Morava num rua sem muito movimento em frente á uma escola. Esta rua em que eu morava não existe mais. Desapareceu nas lembranças dos registros de um tempo passado e uma de suas derradeiras lembranças se dissipou, fiquei sabendo que tudo se desmanchou no ar pela modernidade...fizeram duas vias e um novo acesso.
Beijos
Com muito carinho venho responder retribuindo
ResponderExcluirsua visita no meu blog.
Uma época linda da sua vida tem muito a ver com minha vida
a Rua sem saída naquela época era casa da minha avó.
Era de lá eu saia para os bailinhos até as 10 horas também
tia as Domingueiras também.
Deus abençoe seu Domingo beijos na sua alma,Evanir.
Calu,
ResponderExcluirUma rua sem saída, mas que tem o céu e as estrelas. Que forma linda de ver o lugar onde você guarda tantas boas lembranças.
Eu também sinto muita saudade da rua que vivi minha infância. Um tempo que não quero esquecer nunca.
Lindo poema!
Um lindo e abençoado final de semana!Beijos
Calu, ai que doçura de texto inebriante! Lembrou-me a minha que tinha saída para as estrelas, que não é de Praga, mas sim de um vilarejo que continua minúsculo. Interessante como quase tudo era igual em qualquer parte: as mesmas brincadeiras, as mesmas músicas, os bailinhos e os rapazes que nos presenteavam, com serenatas e a vitolinha escondida.Parabéns querida. Você me levou ao meu passado delicioso e puro! Feliz domingo! Grande e forte abraço!
ResponderExcluirCalu, não cosigo escrever. Tô com os olhos cehios d'água.
ResponderExcluirbeijos
Calu minha linda.. que saudade de você.. dos seus textos lindos.. desse cantinho maravilhoso..
ResponderExcluirNossa!! Enquanto lia me senti sendo transportada a uma época maravilhosa.. onde era tão fácil ser feliz.. era mágico brincar, vivíamos em um mundo tão simples, mas cheio de ternura.. de inocência..
Como fomos felizes né amiga?
Como vivemos coisas maravilhosas.. simples mas que deixaram lembranças maravilhosas em nossas mentes.. que serão eternas..
Adorei e quanto mais lia, mais queria que o texto se encompridasse para que eu pudesse continuar revivendo essa maravilha..
Lindo demais da conta..
Um beijo minha amiga... e uma tarde de domingo mais que especial viu?
Calu, que coisa mais linda...me transportou para a minha adolescência e os meus bailinhos de garagem em Niterói....
ResponderExcluirbjs Sandra
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Calu, seu modo de poetizar é tão único e surpreendente.
ResponderExcluirE a introdução, antes da poesia, descrevendo a rua sem saída mas que atingia talvez o infinito, provocou o desejo de ler mais a respeito.
Este post traz a nostalgia da poetisa, porém, o tipo de nostalgia que nos causa prazer em ler, e não a melancolia habitual dos poemas nostálgicos.
Faço apenas um pedido, nos ofereça mais textos assim, a blogosfera agradece.
Boa semana parceira!
Calu, uma rua sem saída era o sonho de todas as crianças que gostavam de brincar na rua, sem carros indo e vindo... como era bom tomar Q-Suco :) Sem medo de ser feliz!!
ResponderExcluirNostalgia...
Boa semana!!
Beijus,
Lindo Calu! Uma vida bem vivida.Lembranças preciosas que não tem preço.Adorei.
ResponderExcluirbeijão
Oi Calu, que delícia de post, me fez lembrar da minha infância! Embora minha rua não era sem saída, mas meu pai foi um bom tempo presidente de bairro e vivia fazendo festas paras as crianças na nossa rua e para isso ele pedia autorização para a prefeitura fechar a rua e assim era feito! Eram mts festas, brincadeiras, bingo, concursos de música, dança, carnaval... era mt bom! Hoje moro numa rua sem saída, mas é td mt silencioso, não se ouve nem som de grilos. Não tem crianças, as casas na sua maioria ficam tds fechadas, os muros são altos, portões fechados e os vizinhos não se vêem e assim ninguém conversa! Só entram os carros dos moradores, caminhão de coleta de lixo e entregadores e só! Chega a ser triste! Tenho saudades da minha rua quando eu era criança! Obrigada por me fazer lembrar de bons momentos!
ResponderExcluirUma linda e abençoada semana pra vc e td família! :))
Bjssss
viveraprendendo.com
Que preciosidade, Calu! Um paraíso no quintal (rss). E seus versos estão lindos. Bjs.
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