Estive nestes últimos tempos em modo-pausa sem conseguir me expressar como gosto.Quase aos solavancos tenho conseguido, vez ou outra, escrever por aqui, ler por cá, artesaniar logo ali mas, desse modo: aos solavancos, que fazem fissuras largas, um tanto arenosas no meu chão mostrando-me que há perigo dali nada brotar.
Resolvi desmentir-me.Há quatro dias que busco resfôlego e me empurro, me puxo, me levo de encontro aos gostos coloridos de meus dias.
Dito e feito, mostro aqui minhas arteirices recém-nascidas:
Sketchbooks( tamanho A6)
Envelopes com forração em tecido.
Quando nossas emoções ficam mexidas, nossas expressões fazem eco ao fato.Nos faltam palavras. Nos falta empenho.Nos faltam recursos para preencher os vazios que se alojam sem serem convidados. As emoções desorganizadas podem nos paralisar.
A tomada de consciência e de fôlego se dá quando sacudimos a poeira pesada e redesenhamos os caminhos preferidos com novas cores.
Do lugar que agora me encontro, em meu tempo, evoco memórias queridas de outros tempos, passados na cronologia, presentes nos sentimentos.
Memórias da menina-leitora apaixonada( que fui e sou) acomodada numa macia e grande almofada no chão entre a parede e a face da pequena estante no quarto da avó. Ali aconteceram viagens fantásticas ao Olimpo, à Asgard, ao mercado persa, a reinos deslumbrantes, ao fundo mar...Meu lugar mágico me transportava para o alto e além!
Memórias da mocinha inquieta, ávida pelas letras das canções ouvidas em tempos da jovem-guarda, Beatles, James Taylor, Carole King e The Mamas and the Papas__ " Califórnia Dreans, Monday,Monday, tahá, taháháhá... sonhando ser platéia de seus ídolos debruçada no braço da fofa poltrona do seu quarto__ cantinho mágico.
Memórias da jovem mãe inexperiente, medrosa ante os cuidados com os pequenos, com a casa, o marido, a vida cheia de horas que suplantavam as 24 formais, sentindo, por vezes, a falta de um lugar mágico repousante, onde pudesse dormir sem que as horas dessem por isto.
Memórias da mãe crescida, ciente do correr do tempo, do crescer dos filhos(as), dos movimentos espirais que o tempo desenha em presentes inesquecíveis como as férias em família, os momentos cheios de festividades, celebrações e muitas alegrias vividas; lugares mágicos no tempo e no espaço que a geografia marcou e o coração selou em retratos da vida.
Memórias da avó exultante, feliz, feliz, com as dádivas recebidas em fofos pacotinhos de algodão risonho, hoje já crescidinhos, a fazerem de todos os lugares que estivermos juntos, lugares mágicos, únicos e definitivamente os melhores do mundo.
Com afetividade e sintonia em boas e queridas companhias, qualquer lugar oferece sua magia aspergida nas horas festivas.
É certo, que ainda quero um pequeno quadrilátero privado(cantinho mágico) em minha casa onde possa me dedicar às arteirices. Por enquanto, me espalho pela mesa da sala, mesmo.
Parabéns, Rosélia, por mais esta festa linda pela passagem de quase uma década de muitas alegrias partilhadas na blogosfera!
Procuro em em meio aos afazeres intensos salpicar os dias com horas mais amenas pontuadas em atividades interessantes que me forneçam distração e relax. De livros a filmes, da cartonagem/ encadernação ao blog, sempre que possível me envolvo nestas pausas compensadoras.
O livro de agora ao alcance foi presente da Ana Paula ( doladodeforadocoração.blogspot) na corrente do Bookcrossing, "Nossas noites", Kent Haruf. Pelos dias mais animados e por outros menos, estava eu lá pela página 80 e tais quando resolvi pausar a leitura e procurar algum filme interessante na Netflix. Zapeia daqui e dali e não é que me deparo com o box do filme baseado na obra (livro) que estou a ler. Coincidência total.
Jane Fonda e Robert Redford são os protagonistas da trama intimista sobre a solidão na velhice e de como uma atitude solidária pode gerar uma história bonita onde o companheirismo se fortalece em sentimentos mais abrangentes, mais pessoais, revelando um amor maduro e realista, porém igualmente intenso.
O fim da película, não me tirou o sabor da leitura.Prossegui por ela com mais vagar desta vez, deixando que os atores do filme tomassem a pele das personagens que interpretaram contornando as cenas escritas com as já vistas e compondo um painel completo da história.
Pesquei na TV um documentário muito interessante sobre o genial Zé Rodrix, multimusicista, compositor e publicitário que povoou o cenário musical das décadas de 60/70/80 e 90 com composições marcantes em nosso cancioneiro.
Enquanto trechos da apresentação do biografado cantando "Feira Moderna" acontecia , um desfile de cenas memoriais me borbulhava as lembranças...
" Feira moderna,
um convite sensual;
Ó telefonista,
a distância já morreu[...]"
certificando a veracidade atual do último verso: ...a distância já morreu!" Se ainda não, está bem perto disso.
O que a minha geração via como ficção científica, hoje em dia é rotina absolutamente inserida na cotidianidade a facilitar todas as comunicações e interações sociais/pessoais e profissionais. Do lugar que me encontro, rendo loas à toda tecnologia que me permite ver, falar e quase abraçar minha filha aniversariante, acompanhar as aulas de violão da outra filha e cantar junto com ela, conversar com meus netinhos amados, papear com amigas, ultrapassar as distâncias físicas e navegar solta pelas ondas da emoção, preencher contínuos mosaicos de pequenos-grandes contentamentos; compor minhas felicidades rendadas em horas modernas com desenho antigo.
