terça-feira, 24 de novembro de 2015

Escolhas, desafios de todas as horas






Eram três narizes aspirando o ar gelado que se desprendia do freezer dos sorvetes.Tentações enfileiradas. Opções variadas.É preciso escolher um sabor e sem demora senão o gelo se desfaz.Multicoloridos picolés sorriem pra gente de dentro das embalagens. Todos sedutores.Qual escolher? "Apressem-se, meninas, faço o chamado alto." Cada uma pega o seu escolhido sem, no entanto, deixar de lançar um olhar lamentoso pro demais que lá ficavam no recinto gelado.Gostosuras nas mãos vamos caminhando entre gostosas mordidas e saboreios. Sem demora a pequena pede:" Posso provar do teu, vovó?" Novo sabor; nova avaliação seguida da esperada pergunta:
__ Vamos trocar?

Nem sempre é tão fácil mudarmos nossas escolhas.A opção por uma é renúncia pelas demais.Fato.Sorte será a de poder-se refazer, redesenhar escolhas não muito favoráveis, aí, se dá o que chamo de oportunidade fortuita.

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Na trilha do assunto encontrei esse texto da Cristina Souza/ Obvious,
" O que você anda escolhendo", do qual destaco trechos interessantes;  


A época é outra, mas as indagações permanecem – as dúvidas quanto ao amor, as dores da solidão, a banalização dos sentimentos, a supremacia da aparência, a perda de tempo com as trivialidades. Não, não é culpa da internet, do smartphone ou do tinder – embora eu acredite que essas ferramentas acabaram por amplificar e facilitar esse cenário – a culpa é nossa. O problema dessa agonia generalizada, dessa banalização dos sentimentos, desse circo todo é pura e exclusivamente nossa. As pessoas perderam o trato com as próximas, e não sei bem quando isso aconteceu, se foi na época de trocas de cartas ou quando eu mandava meu último whatsapp.
Já dizia Clarice: A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre. E concordo com o velho Buk, se parássemos para pensar nisso, quem sabe podíamos amenizar um pouco dessa agonia toda? Todo momento de nosso dia é uma escolha, e como disse o Jô Soares em uma entrevista: Escolher é perder sempre. Mas cabe a nós decidirmos o que vale a pena perder, já que não temos todo o tempo do mundo. Que diabos, nem ao menos sabemos quanto tempo nos resta!
Se cada escolha significa uma renúncia, não está em tempo de pensarmos melhor sobre nossas perdas? Em pensar menos no volume, na quantidade, e mais na qualidade daquilo que estamos escolhendo? Vários colegas ou um bom amigo? Várias risadas forçadas em uma festa ou uma noite com risadas sinceras de doer a barriga? Muitas transas vazias ou poucas transas com possibilidades do aconchego do depois? Que tal menos ‘doer’ e mais ‘doar’?

Não estou dizendo que devemos deixar de fazer outras coisas triviais. Não devemos ser sérios sempre, nem filosóficos sempre, nem ser altruísta sempre – mas aprendi que a vida nos dá dois caminhos de aprendizagem: o da dor e o do amor. E enquanto eu puder escolher, fico com o segundo, ainda que pareça que ele dói às vezes, o caminho do amor é sempre a melhor opção. E já que não temos escolha sobre a morte, que ao menos a gente possa escolher as possibilidades que deixam a vida mais leve. Daqui a gente não leva muita coisa mesmo.


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Imagem: pinterest



quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Por Hoje







Hoje quis quedar-me no silêncio das coisas e só ater ouvidos pra natureza límpida, sábia e cíclica infestada de vida abundante, de fulgores brilhantes, de auroras e crepúsculos que bradam em cores a grandeza do viver.
Em prece me quedo. Em prece agradeço. Em prece rogo por  compaixão universal.


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"Um raio 
 Fulgura
No espaço,
Esparso,
De luz;
E trêmulo
E puro
Se aviva,
S'esquiva,
Rutila,
Seduz!

Vem a aurora
Pressurosa
Cor de rosa
Que se cora
de carmim;
A seus raios
As estrelas,
Que eram belas,
Têm desmaios,
Já por fim.

O sol desponta
Lá no horizonte,
Doirando a fonte,
E o prado e o monte
E o céu e o mar;
E um manto belo
 de vivas cores
Adorna as flores
Que entre verdores
se vê brilhar[...]"

(Estrofes do poema: Tempestade,Gonçalves Dias)

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Foto minha


sábado, 7 de novembro de 2015

Simplicidade / Varal Coletivo










Provou com cuidado o caldo na colher.Deixou que o líquido assomasse as papilas espalhando sabor.Achou que merecia um pouquinho mais de pimenta do reino.Só um cisco, uma triscada sutil por sobre a fervura e pronto.Simples assim. Perfeito assim.

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Disseram-lhe que as pedrinhas fariam uma espécie de represa pra água não escorrer pr'o passeio.Aceitou e cumpriu o conselho.Passados poucos dias viu que a água caprichosa achava seus caminhos, escorria solene entre pequenos desvãos do acimentado. Tornou, então, a realocar o leito de pedrinhas e novos caminhos soltos se fizeram.Estava quase desistindo quando em um passeio pela vizinhança viu um bem arrumado canteiro de icsórias.Coloridas e juntinhas formavam um anel florido.Poderia dar certo.Com esta ideia na cabeça e espírito animado, foi pra casa.

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Bateu aquela vontade grande de tomar um cafezinho.Já sentia o aroma vindo da cozinha e invadindo a casa enquanto se dirigia ao preparo. Montou a cafeteira e descobriu que estava sem filtro de papel. E agora? Deixa pra lá! Não é o fim do mundo, só a perda dum momento prazeroso.E vale perder-se instantes assim? Vasculha o armário e constata.Não tem mesmo.Mal humorada, vai saindo da cozinha quando seus olhos batem no aramado por sobre a pia; a toalha de papel, claro!E o aroma do café a abraçou por inteiro.Tão bom! Tão simples!

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Com a xícara fumegante, sentou-se acomodada com o livro da vez ao colo.Na página saltavam palavras carregadas duma intensidade simbólica onde a simplicidade se mostrava risonha nos sentires da gente simples do lugar.Nostalgias compartilhadas, narrativas detalhadas a descrever e provocar opiniões. A dela também.


" Dizem que a vida era melhor quando era mais difícil.Dizem que a comida era mais saborosa quando as pessoas tinham fome e que não há nada mais maravilhoso do que assistir a cada nascer e pôr do sol.Dizem que a vida deve ser assim: trabalhar com afinco, comer a sua porção e dormir como uma criança...
" Toda manhã,saímos para caminhar cedo, enquanto o sol ainda está nascendo.Encontramos as fontes romanas que jorram água clamantes e muito quentes nas quais molhamos nossos pés ou, quando queremos, mais que isso..."
( trechos de: Mil dias na Toscana, Marlena de Blasi)

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Finalmente pude participar desta edição do Varal coletivo a convite das amigas, Ana Paula, ladodeforadocoração e Tina Bau, blogdtina. São interações como essas que estreitam mais amizades calorosas por aqui na blogosfera.
Valeu, meninas! :)





segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Pontos Passados










São dois pontos,
duas vistas, 
partes do mesmo quadrante,
 pares incertos,mas constantes,
repartem muitos olhares.
Ponto visto, ponto cego,
surge, desaparece,
mostra por instantes,
esconde por séculos.
Ponto de partida,
 marco de chegada,
 ponto escolhido,
cálida parada.
Ponto esquecido,
se lembrado, querido.
Ponto, parada,
refúgio, escapada.
Ponte ou ponto,
trilha passada,
pegadas na areia,
caminhada.
                             (Calu)


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