" O mundo não é o que existe, mas o que acontece."
Dito de Tizangara ( Mia Couto)
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Antes tarde do que nunca, viajei neste outubro entre as almofadas do sofá, a rede, e a cadeira de balanço, num ir e vir cheio de curiosidade constante, mas interrompida mais vezes do que eu gostaria.
Foi uma viagem planejada já há algum tempo, porém adiada sem que eu saiba dizer bem o porquê, talvez eu ainda não estivesse pronta para passear pelo incrível universo de Mia Couto,o que se deu nesse mês findo no então :O Último Voo do Flamingo, na imaginária e mística Tizangara, lugar de realidade e ficção, mistério, suspense, magia, vida e morte em tempo coabitado.
A linguagem característica, as desconstruções, os provérbios, todo um conjunto na narrativa única do autor, me apanharam num laço irresistível de assombro e interesse.A cada capítulo o foco se alterna entre os personagens que se mostram às luzes da estória protagonizando-a a seu tempo,como: a prostituta Ana Deusqueira, a velha-moça Temporina, o italiano Massimo Risi,o administrador da vila Estevão Jonas, o tradutor-narrador que assim prefacia:
"Fui eu que transcrevi,em português visível, as falas que daqui se seguem.Hoje são vozes que não escuto senão no sangue, como se a sua lembrança me surgisse não da memória, mas do fundo do corpo.È o preço de ter presenciado tais sucedências..."
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A obra já foi levada para o cinema em 2010, em co-produção Moçambique-Portugal.
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Num pequeno trecho da entrevista dada por Mia Couto para a revista Metáfora de setembro/2011, ele fala de como e quando Guimarães Rosa começou a influenciá-lo:
___"Depois que escrevi meu primeiro livro de contos, Vozes anoitecidas(1987).Rosa tinha feito uma espécie de recriação do português, o que me tocou muito, porque havia na época uma necessidade quase existencial dos escritores moçambicanos em se verem livres de um português que já não lhes servia, que era uma espécie de vestuário que tinha sido feito à medida de outra cultura...uma espécie de um terno fabricado com tecidos e padrões que não tinham absolutamente a ver com a realidade moçambicana..."
"Não me basta ter um sonho.
Eu quero ser um sonho."
Palavras de Ana Deusqueira