Foto:Carlos Martins
Eu espero pelo dia em que a tecnologia transforme pensamentos em coisas imediatamente viáveis e que numa espécie de mágica as distâncias se encurtem e que simplesmente a gente possa fechar os olhos e, num átimo de segundo, estar abraçado a quem se deseja ou dançando de olhos fechados naquele lugar tão nosso onde foram tecidas nossas histórias mais reais.
Espero pelo dia em que a palavra me faça companhia como uma pessoa que conversa e ouve e retruca e silencia e diz ao contrário desdizendo o próprio eco do que proferi.
Espero que a gente transforme a própria vida mudando as vírgulas do texto, acrescentando advérbios, encontrando sinônimos mais adequados e adjetivos tão positivos que nos façam acreditar que somos essa explosão luminosa de cores e brilho. Espero que a nossa boca cuspa gliter! E que os olhos cintilem e espelhem cristalinamente de tal forma, que a nossa imagem refletida no outro seja clara e melhorada e a gente saiba a hora exata de consertar o sorriso.
Espero que as mudanças sejam aceitas e que, por serem inevitáveis, sejam conscientes e eficazes, e que movimentos sejam feitos pra se melhorar ao redor além de dentro, que o outro seja não só uma parte, mas uma extensão e que possamos cuidar nele da mesma ferida que curamos em nós quando dói.
Espero pelo bom ouvinte, pelo meu bom ouvido, pela expressão de confiança que desata o nó do medo e acalma e acalenta.
Espero que meus olhos sejam, inclusive, colo prum desconhecido qualquer que olhei de relance por aí se for disto que ele estiver precisando. E que a minha vida seja um exemplo de fluidez e totalidade e de uma vitória sobre a batalha contra qualquer espécie de preconceito que, secretamente, talvez, eu ainda esteja cultivando contra mim, contra o outro.
Espero que a falta de assunto não me cale e que a vontade de me comunicar seja o próprio motivo pra vir aqui e escrever: numa esperança de tocar, numa despretensão de tocar, numa transparência de dizer pelo simples fato de tentar e, às vezes, conseguir fazê-lo. Porque quem vive uma história de amor irremediável com a literatura e aprendeu a relatar dias, dores, orgasmos, saudades e angústias, não tem espaço suficiente dentro de si para trancafiar isto e nem deve_ se alguém além de mim ainda vem aqui para ler o que eu tenho a dizer...é porque faz sentido.
Espero ainda que Chico Buarque, Mia Couto e Manoel de Barros nunca morram.E que todos vcs tenham, brevemente, as maiores alegrias que jamais imaginaram ter.E que se já foram machucados, que tenham ainda muito conforto emocional, que sejam muito amados por várias pessoas, que possam confiar plenamente na vida, que não manchem seus corações com rancores passados. E que não procurem artifícios pra embotar as próprias emoções quando tudo doer agudamente porque isso também faz parte do processo, e é tão precioso quanto o que nos alegra.Eu espero que vcs sejam ótimas companhias pra vcs mesmos, que se sintam à vontade dentro do próprio corpo, esse espaço sagrado, e que cuidem bem dele...Espero que a vida seja boa com vcs e que quando tudo estiver muito difícil, que vcs encontrem as forças necessárias pra prosseguir sem hesitação e que nenhuma angústia seja vivida em vão. Espero que vcs tenham vários momentos de entusiasmos (que em grego significa: ter um deus dentro)...
Eu espero......mas se preciso for, vou ao encontro.
Marla Queiroz