quarta-feira, 25 de março de 2015

Crônica de uma nova saudade







O casal chegou pousando suavemente na borda da mesa de trabalho.Em arrulhos me contaram dos infortúnios acontecidos.Ouvi entre atenta e abismada e constatei suas queixas; o limoeiro formoso, nascido em terras vizinhas, gentil companheiro de muro, cortês presença diária, tinha sido vitimado por lâminas cruéis que lhe ceifaram a vida sem piedade.E agora, lá jaz ele, sem viço, sem vida, tombado pela indiferença cometida, longe dos pousos elegantes da passarada locadora de seus galhos em tardes de cantoria.O verde imóvel foi ao chão deixando muitos desabrigados.Choram os bem-te-vis, as rolinhas, as sábias e beija-flores turistas.O muro nu é uma visão desértica.

Tentei consolá-los, embora nem me sentisse assim.Pedi que não se ausentassem do bairro, havia ainda a romãzeira, o flamboyant, os coqueiros, o pé de hibiscos, embora eu também saiba que  o limoeiro era incomparável.
Uma perda muito sentida!


***



Lembrei-me da nitidez lírica de Tarsila do Amaral ao retratar nossas belezas naturais, a terra, o povo, flora e fauna exuberantes.Não tenho notícias duma tela dela retratando um limoeiro mas, como o olhar se encanta pelo que traduz, vejo nesta que aqui trago a árvore de minha nova saudade.
Em "Paisagem com o touro", resplandece elegante um limoeiro (ao menos pra mim, sim).






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Imagens:uol.com
gazetadopovo.com




8 comentários:

  1. Choram as aves, choram as pessoas que dele falta sentirão! Pena assim seja...Mas a vida segue e , embora inconformados, outras árvores ainda lá estão.Há de mantê-las, preservá-las. Lindo te ler ,Calu! bjs, chica

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  2. Calu, linda, linda a delicadeza desta tua crônica. Aqui assim com dor, fico torcendo para que sejam acolhidos pelo coqueiro ou romãzeira e sei que serão. E que a vizinhança é amistosa.
    Mas isso me faz pensar nas lâminas cruéis lá na Amazônia...
    Beijo!

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  3. Oi Calu

    Preciosa é nossa natureza, e toda perda é sentida.

    bjokas com carinho =)

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  4. Ai Calu, me dói no coração ver uma árvore cortada....eu as sinto da mesma forma que os animais e as pessoas, quando as toco sinto como um formigamento em minhas mãos, como se uma corrente elétrica suave estivesse passando. Converso com elas sempre e às vezes ouço suas mensagens.
    Que triste...sabe, às vezes tenho vergonha da nossa espécie.
    Bjs

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  5. Uma árvore que se vai e que já fazia parte de nossa visão diária, deixa mesmo saudade. Creio que os pássaros dela compartilham, realmente. Bela forma de narrar, Calu. Bjs.

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  6. Uma árvore é um ser vivo, e a sua morte dói como a de um amigo.
    Um abraço

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  7. Ai como dói saber que árvores são ceifadas, aqui ou na distante Amazônia!
    Nosso povo parece ainda não entender que para termos água, precisamos do verde.
    Sua forma poética de narrar o acontecido, amenizou esta crueldade e ainda bem que este lugar por aí, além do mar pertinho, tem também muitas árvores.
    um abraço carioca


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  8. Crônica que retrata o quanto as pessoas cultuam aquilo que apreciam e se entristecem com as perdas, principalmente quando se dá por atitudes cruéis.
    bjs

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!