"... No fundo é muito difícil viver o exílio, conviver com todas as saudades diferentes__ a da cidade, a do país, a das gentes, a de uma certa esquina, a da comida__ conviver com a saudade é educá-la também[...]", declarou o incansável educador brasileiro Paulo Freire em suas escrituras.
No clamor da data que marca 50 anos dum período de trevas na história brasileira, ressoa por todo país as diversas manifestações de repúdio à ditadura militar.Sabemos da inúmeras vítimas deste regime que ceifou vidas e vitimou famílias deixando órfãos pais e filhos.Os braços armados do Estado se alongaram como tentáculos multiplicados por todas as áreas da sociedade e a educação foi uma das primeiras a senti-los.
Paulo Freire foi um dos primeiros brasileiros a ser punido pelo regime autoritário, preso logo após o golpe acusado de subversivo e ignorante por instituir o seu Programa Nacional de Alfabetização, o qual atendia às populações campesinas analfabetas e desfavorecidas na campanha " de pé no chão também se aprende a ler." Em sua batalha contra a opressão em favor da vida e da liberdade consolidou sua proposta de uma educação libertária, que ia ao encontro do aprendente aonde ele estivesse promovendo uma pedagogia aberta, valorizadora das experiências das pessoas e de suas origens.Para a época, uma verdeira revolução no ensinar e no aprender para crianças, jovens e adultos.O menino do campo não seria obrigado a descobrir o alfabeto em cartilhas bonitas, porém diagramadas com símbolos e referências das quais ele jamais tinha entrado em contato e que não lhe significavam nada, ao contrário, promoviam logo desinteresse.Percebendo esse afastamento entre a formalidade e a realidade, o professor Paulo Freire aproximou o ensino da vivência real dos aprendentes, trazendo seus conhecimentos práticos, seus hábitos, sua cultura pras salas de aula improvisadas em galpões, em quintais e onde mais houvesse um espaço propício.No interesse crescente das crianças e jovens, vieram os pais lavradores, camponeses paupérrimos, explorados e esquecidos nos cantões do país.
Essa troca fecunda de saberes foi num crescendo se espalhando e dando frutos; os alunos de todas as idades iam conquistando pouco a pouco sua cidadania, aprendendo a ler o mundo que os rodeava e o que se encontrava distante através dos diferentes suportes de leitura que lhes eram apresentados.Foram ganhando autonomia, desenvolvendo criticidade, dialogando e interferindo em suas realidades ao que isso logo chamou a atenção e o desagrado dos poderosos e assim que a ocasião propiciou reivindicaram ao governo militar a imediata suspensão dessa "nociva prática pedagógica" e a consequente punição de seu idealizador.
Para o opressor não interessa um oprimido pensante, cidadão consciente e pleno de seus direitos, sendo assim a premissa mais uma vez se cumpriu demarcando o que se viu a seguir: um golpe de Estado onde um clima de terror foi infligido a todos os setores da sociedade brasileira perdurando por duas lamentáveis décadas.
Preso por 75 dias, Paulo Freire foi "convencido" a deixar o país, no que resultou em 16 anos de exílio, mas não de resignação acomodada.Movido por seu incansável ideal não se deixou ficar ilhado no espaço imposto, foi em busca dos oprimidos em todas as partes da Terra.Levou sua pedagogia libertária por países das Américas e África interessados numa educação ampla e real.Dialogou com chefes de Estado, acadêmicos de todas as áreas, ministros e pessoas do povo dos lugares por onde passou espalhando a sua pedagogia da esperança.
***
O jornal O Diário de Pernambuco produziu um webdocumentário "Filhos do Golpe", onde retrata os acontecimentos decorrentes pelo viés de dez filhos de presos políticos, desaparecidos, assassinados e/ou exilados, pela ditadura militar.
Essa troca fecunda de saberes foi num crescendo se espalhando e dando frutos; os alunos de todas as idades iam conquistando pouco a pouco sua cidadania, aprendendo a ler o mundo que os rodeava e o que se encontrava distante através dos diferentes suportes de leitura que lhes eram apresentados.Foram ganhando autonomia, desenvolvendo criticidade, dialogando e interferindo em suas realidades ao que isso logo chamou a atenção e o desagrado dos poderosos e assim que a ocasião propiciou reivindicaram ao governo militar a imediata suspensão dessa "nociva prática pedagógica" e a consequente punição de seu idealizador.
Para o opressor não interessa um oprimido pensante, cidadão consciente e pleno de seus direitos, sendo assim a premissa mais uma vez se cumpriu demarcando o que se viu a seguir: um golpe de Estado onde um clima de terror foi infligido a todos os setores da sociedade brasileira perdurando por duas lamentáveis décadas.
Preso por 75 dias, Paulo Freire foi "convencido" a deixar o país, no que resultou em 16 anos de exílio, mas não de resignação acomodada.Movido por seu incansável ideal não se deixou ficar ilhado no espaço imposto, foi em busca dos oprimidos em todas as partes da Terra.Levou sua pedagogia libertária por países das Américas e África interessados numa educação ampla e real.Dialogou com chefes de Estado, acadêmicos de todas as áreas, ministros e pessoas do povo dos lugares por onde passou espalhando a sua pedagogia da esperança.
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O jornal O Diário de Pernambuco produziu um webdocumentário "Filhos do Golpe", onde retrata os acontecimentos decorrentes pelo viés de dez filhos de presos políticos, desaparecidos, assassinados e/ou exilados, pela ditadura militar.
Post bem trazido, tempos tristes que nunca mais devem voltar! A lembrança e "descomemoração" para que sirva de exemplo... Quantas vidas, quantas torturas, sofrimentos sob patas de cavalos e cavalgaduras"! Que horror! beijos,chica
ResponderExcluirMuito triste relembrar todo episódio daquele tempo ( quem sabe camuflado agora ........)
ResponderExcluirTemos que lutar pela nossa liberdade em todos os sentidos.
Belo texto.
Bom dia.
Beijos.
Descomemoração - termo acertivo para a data.
ResponderExcluirPeríodo de inferno em nossa história que precisa ser conhecido, trazido à luz, com todos os seus desconfortos para que não se repita.
Paulo Freire, 16 anos semeando liberdade. A educação, o acesso a ela é libertador.
Descomemoro com você Calu, neste belo texto.
Beijo.
Paulo Freire foi um grande homem e um grande educador.
ResponderExcluirbjokas =)
Aplaudo de pé sua lembrança neste momento emblemático dos 50 anos pós ditadura em nosso país.
ResponderExcluirUm grande homem, um grande mestre, um homem que teria ajudado nosso povo, lá atrás, a melhorar suas condições educacionais e fazer um país com menos obscurantismo no saber.
Mas, o que fizeram aqueles obtusos militares com medo de perder o poder para o povo? Prenderam e exilaram, calaram a boca de um homem que estava pronto para tirar este país da ignorância.
Mais tarde, Leonel Brizola juntamente com Darci Ribeiro tentaram reativar a memória do grande mestre através dos CIEPs que não foram pra frente no estado do Rio por conta da mesma ignorância e falta de vontade política dos governantes para botar em prática aquele excelente projeto e o que vemos hoje, são carcaças de escolas que nunca foram bem aproveitadas.
Devemos lembrar este e outros grandes nomes da nossa história e ensinar de vez que as verdadeiras "Celebridades"
são pessoas como Paulo Freire que tanto deram para o engrandecimento de nossa pátria.
Ótimo post para enaltecer e relembrar um grande nome!
beijinhos cariocas
(vou recomendar lá pelo Face e Gmail)
Ele é incrível!
ResponderExcluirVisão, reflexões propostas, contribuições, intenções
Paulos Freires deviam nascer, criar-se, existirem aos montes
Para medialzarem, educarem, polirem, florescerem o mundo
Tempo podre,imundo.inferno aqui na terra. Meus pais foram vitimas disto e até hoje eu e meus irmãos carregamos sequelas irreparáveis.Paulo Freire e outros tantos sobreviveram mesmo que com cicatrizes na alma e corpo.
ResponderExcluirmeu beijo e ótimo registro.
Calú, que feliz fico por teres trazido aqui a memória dos feitos desse grande Pedagogo que foi Paulo Freire!
ResponderExcluirPela mesma altura, vivíamos nós , aqui em Portugal" , também em ditadura e obscurantismo, com a Pide a fazer o mesmo que os vossos militares.
No ano de 1967/ 68, entrei num Projecto de Alfabetização pelo Método de Paulo Freire, organizado pelo Graal de Portugal. Não se podia "ensinar ou desenvolver" a cultura democrática, mas Salazar deixava alfabetizar. E o Método de Paulo Freire, era dois em um! Começavas por uma imagem de um TIJOLO para dares a "família" do TA-TE-TI-TO-TU, JA-JE-JI-JO-JU, LA-LE-LI-LO-LU. Mas antes, punhas os adultos a falarem do que a imagem lhes sugeria. E era lindo ver como as pessoas falavam do seu desejo de ter casa, de uma habitação condigna, do direito de todos à habitação, da higiene necessária, etc...
E no mesmo dia construiam palavras com as sílabas visualizadas. Aparecia o TEJO e o TOLO, a LATA e a LUTA, etc...
O que era lindo de ver, eram as pessoas a pensar, a acreditar e a aprender.
Deus tem por certo um lugar muito especial no Cáu para Paulo Freire.
Os livros dele, só depois do 25 de Abril de 1974 pude lê-los e não esquecerei a sua PEDAGOGIA DO OPRIMIDO.
Nele, ele mostra como o oprimido fàcilmente vira opressor... Para meditar!
Um abraço grande da Bombom
Calu,
ResponderExcluirMuito triste relembrar a "idade das trevas" em que vivemos na época da ditadura, -- eu com certeza vi e vivi --. Hoje vivemos outros tempos. Será? Sim, vivemos outros tempos, respiramos novos ares. Só que agora, nos tempos atuais, as trevas andam camufladas com uma luz muito falsa e o ar está rarefeito. E a luta precisa continuar. -- Achei muito bem colocado teu texto e sobretudo os feitos de nosso grande Paulo Freire. Você sempre nos surpreende. Parabéns! Bjs Marli
Calu:
ResponderExcluirA ditadura realmente simbolizou um período de caos nacional.
Creio que qualquer ato extremo, tem um resultado desagradável e que não colabora pra evolução e progresso.
Ao contrário, só causa sofrimento e estagnação.
Mesmo assim, Paulo Freire conseguiu se manter firme em seus propósitos e realizou um trabalho de qualidade, levando sua educação libertária a vários cantos do mundo.
Minha admiração por ele e pela sua postagem primorosa.
Bjs.:
Sil
Olá, Boa tarde, Calu,
ResponderExcluirsim, temos que descomemorar o que ainda provoca calafrios e aflições e não se dissipa com os raios da manhã, e que ainda está vivíssimo na memória do País como um período de tenebrosas violações da liberdade, dos direitos humanos que deixou milhares de mortos, desaparecidos e torturados, mesmo com muita "coisa" sob um manto escuro ...
sim, temo que comemorar Paulo Freire, que nos ensinou que o diálogo é a “essência” da ação revolucionária e que a educação não tem por objetivo torná-las ( as pessoas) aptas a interpretar o mundo e agir nele de acordo com a sua própria vontade, como muitos pensam , mas servir de meio, através de uma abordagem dialógica de todos os que queiram participar da (re) construção de uma sociedade mais democrática e justa , com direitos e deveres iguais....
Obrigado pelo carinho,belos dias,beijos!
Olá Calu,
ResponderExcluirDescomemoração à ditadura é um termo bem apropriada para a postagem.
Paulo Freire incomodava ao contexto histórico da ditadura. Deixou sua marca como educador comprometido com as classes oprimidas.Tornou-se uma inspiração para gerações de professores. Um personagem histórico que merece nosso respeito e admiração. Oportuna e justa homenagem a esse grande intelectual.
Tenho a impressão de que os governantes do Brasil ainda continuam a temer cidadãos pensantes e conscientes de seus direitos, pois não se preocupam ou investem adequadamente na educação em nosso país.
Excelente texto.
Beijo.
Minha comadre querida!
ResponderExcluirFoi com muito carinho que indiquei você ao "Desafio dos Poemas".
Espero que goste e aceite, tá?
Detalhes, aqui:
http://meudocelarbykarinfilgueira.blogspot.com.br/2014/04/e-para-cumprir-o-desafio-dos-poemas.html
Bjs!
Deus abençoe!
Adorei o Título, não há mesmo o que comemorar. Concordo plenamente com o comentário da Vera Lúcia, pois acredito que o descaso com a educação é fundamentado na ideia de que um povo mal instruído é um povo oprimido que não sabe lutar pelos seus direitos.
ResponderExcluirParabéns Calu.
Um abraço.
Boa noite amiga Calu, finalmente consegui ser sua seguidora.
ResponderExcluirAqui em Portugal como sabe, também tivemos tempos negros de ditadura e repressão que tantas vidas ceifou.
Desconhecia a história de vida de Paulo Freire, que muito me sensibilizou e emocionou.
beijinho
Um lindo final de semana pra você, recheado de coisas boas...
ResponderExcluirBeijos
Ani
Calu, em um blog amigo, que ora não me recordo, vi uma referência a sua postagem. E ficou, realmente, perfeita. O exemplo que utilizou merece aplausos. Fico pasma por encontrar pessoas elogiando aqueles tempos e desejando sua volta, como salvação para nossos problemas atuais. A ditadura é sempre retrocesso e usa os fins, que alegam bons, para justificar os procedimentos dolorosos impostos aos que não se curvam. Bjs.
ResponderExcluirOlá Calu! Como está?
ResponderExcluirComo disse o músico e filósofo Renato Russo (saudade): "Eu não anistiei ninguém!" . A Lei da Anistia jogou terra sobre as mazelas deste período tão negro de nossa história e tentou fazer-nos esquecer os horrores praticados em nome da ordem e de uma democracia enviesada. Ela também impediu, assim, que julgamentos de casos escabrosos ocorressem em nome da justiça (cega, surda, muda e deficiente mental em nossa cultura). O Brasil perdeu com ela a oportunidade de passar a história a limpo e agora, cinquenta anos depois, só nos resta lamentar as perdas e lutar para que nada mais do gênero ocorra.
Brilhante sua matéria. É de qualidade que precisamos!
Um abraço e tenha bons dias!