sábado, 25 de janeiro de 2025

Dueto poético


Retrato em luar


Meus olhos ficam neste parque,
Minhas mãos no musgo dos muros,
para o que um dia vier buscar-me,
entre pensamentos futuros.

Não quero pronunciar teu nome,
que a voz é o apelido do vento,
e os graus da esfera me consomem
toda, no mais simples momento. 

São mais duráveis, as heras , as malvas
que a minha face deste instante.
Mas posso deixá-la em palavras,
gravadas num tempo constante.

Nunca tive os olhos tão claros
e o sorriso em tanta loucura.
Sinto-me toda igual às árvores:
solitária, perfeita e pura.

Aqui estão meus olhos nas flores,
meus braços ao longo dos ramos:
e, no vago rumor das fontes,
uma voz de amor que sonhamos. 

Cecília Meireles 



Descanso meus olhos ávidos
refrescados pelo orvalho
contido nas ramas das flores,
alado nas asas dos pássaros.

Alongo a delicadeza
destes prados em muitos verdes,
sorvo a brisa perfumada,
refaço-me em natureza.

Os instantes se confundem
nas cores que a tudo abrangem.
Deixo-me ficar muda,
falo a voz dos montes. 

Aqui, onde murmúrios d'alma
se fazem ouvir mansamente,
crio claro relicário 
nessa luz que me revela.

(Eu) 



4 comentários:

  1. Aplausos querida poetisa, Calu
    Beijinhos
    Verena.

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  2. Consegues duetar maravilhosamente e Cecília deve te aplaudir e se orgulhar!
    Ficou lindo,Calu!
    beijos, ótimo fds! chica

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  3. Gostei muito deste momento poético... Obrigada.
    Continuação de um verão agradável e inspirado.
    Um abraço afetuoso .
    =====

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!