sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Sopros de ânimo e pães frescos







A fila nem era tão grande; grande era o cheiro do pão quentinho a borboletar por todo lugar, se oferecendo exibido por entre as treliças da enorme cesta de vime apoiada no balcão aquela hora duma tarde pintada em azul primaveril. Cores fortes, aromas, tudo isso mexe com nossos sentidos de maneira intensa, nos remete a outros tempos, outros lugares, vão desenhando nossas páginas vividas e deixando pinguinhos de tinta nas ainda em branco; promessas de escritas.

Estava eu bem atrás de duas mocinhas, bem jovens que conversavam animadamente e para meu assombro não era sobre namorados, ou redes sociais ou futilidades, as duas debatiam sobre os candidatos à presidência e, tudo o mais que tem sido visto nesta campanha esdrúxula. Mostravam-se desanimadas com os cenários que temos e estavam inclinadas a não irem votar.Foi aí, que não me contive.Eu e minha grande boca, na qual pus um sorriso e perguntei as idades, ambas de 17 aninhos, jovens eleitoras, estudantes do ensino médio, cheias de fórmulas e regras nas cabecinhas, porém, ao que me pareceu, muito curiosas e preocupadas com os rumos do país.

Não perdi a oportunidade de trocar umas idéias com as duas e lhes perguntei se viam importância em seus votos.Me responderam não achar que poderiam mudar muita coisa.Discordei.Resumi em poucas palavras, se é que isso é possível de assim ser dito, o quanto foi nocivo o tempo da ditadura, a supressão dos direitos civis dos cidadãos, as barbaridades cometidas em nome dum regime totalitário e opressor, o quanto isso deixou marcas por várias gerações que reverberam até hoje. Estarmos podendo exercer nosso voto é uma conquista maravilhosa, mesmo que ainda tenhamos um longo caminho de aprimoramento para uma democracia mais íntegra e plena, o que não pode nos esmorecer ante o desânimo de a vermos tão vilipendiada.Se cruzarmos os braços e nos omitirmos, aí sim é que não mudaremos nada, nunca. 

Refletir, ponderar sobre o atual cenário vivido.Considerar os interesses que precisam ser atendidos para que o país se fortaleça como nação e atenda a todos os aspectos da sociedade, é imperioso.Embora nenhuma mágica aconteça a curto ou médio prazo, favorecer que perspectivas acenem com vivências mais democráticas, alternando e equilibrando ações mais assertivas, podem abrir horizontes mais amplos.

A esta altura da conversa já havíamos deixado passarem quatro  pessoas em nossa frente na fila.Nos despedimos com sorrisos amigáveis e saímos com nossos pãezinhos fresquinhos e muitas idéias na cabeça.


****



..." Então é isso. Então é assim.Apesar dos medos, convém não ser demais fútil, nem demais acomodada.Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem que ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido[...]"
( Lya Luft)





7 comentários:

  1. Deu pra sentir daqui o cheirinho do pão quentinho e viajar nas lembranças nas padarias do Rio que adoro e espero ainda estejam maravilhosas como antes.

    A padaria era o cenário, o cheirinho delicioso...

    Porém triste ,Calu, ver jovens de 17 anos já desanimadas.

    Mas depende de quem são, se são jovens que leem, observam o que ao lado acontece, prestam atenção à realidade que vivemos, só podem assim estar!

    Se alienados não forem os jovens, não podem ter muitas esperanças. Infelizmente! No cenário que se descortina, um ou outro vencendo,desânimo total por aqui!!!

    bjs, tudo de bom,chica e desejo um lindo fds!

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  2. Calu:
    Não podemos esmorecer, apesar do cenário político desfavorável.
    Votar é um exercício de cidadania do qual não podemos jamais abrir mão.
    Bjs.:
    Sil

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  3. Oi Calu, você colocou em prática a citação da Lya Luft. Achei muito interessante sua atitude, e justamente essa é a beleza da maturidade, termos liberdade para transmitir aos mais jovens experiências e horizontes que eles desconhecem.
    Bjs e ótimo final de semana

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  4. Olá, Calu, como vai?
    Observar seu texto me fez pensar como vejo hoje a sociedade dividida em dois grupo: um de pessoas conscientes, preocupadas com as pessoas, com o país, e outro repleto de ignorância e atitudes estúpidas.
    Penso que, apesar de não compreender o poder do voto, estão no primeiro grupo, de cidadãs que pensam e desejam ver uma sociedade transformada.
    Outra coisa que acho fantástica, essa troca de conhecimento e ideias que podem acontecer quando nos abrimos a um diálogo descompromissado com alguém que não conhecemos, independente da idade.
    Eu já votei... sempre na intenção de que o melhor aconteça.
    Um abraço!

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  5. Bom dia Calu, até senti o cheirinho do pão quente! Bom demais!
    Depois sobre as duas jovens, muito oportuna a sua conversa com elas! O mal da sociedade actual é o comodismo! Reclama-se muito, mas na hora de ir votar a abstenção aqui, por exemplo, é enorme!
    Daí ser importante sensibilizar os jovens, porque no fundo eles nem têm bem a noção do que é faltar a um acto de civismo que no caso das mulheres demorou tanto tempo a conquistar!
    Beijinhos e que o resultado mais logo seja o mais favorável!
    Ailiime

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  6. Exercer o direito ao voto é muito bonito e sonho para que ele não seja obrigatório.
    O breve relato desta pagina infeliz de nossa historia deveria ser uma referencia sempre, quando nos sentirmos ameaçados.Mas diante de uma campanha tão porca e desrespeitosa, creio que fica até difícil convencer a alguém de que votar é importante. Foi um lixo né Calu?
    E pior Calu que hoje nos jornais daqui não se falava outra coisa da discriminação ridícula nas redes sociais gerando ação de PF e processos judiciais. Criaram um desculpa para derrota e criaram um clima muito ruim e perigoso de nordeste contra sul, que muito me entristece, depois do pais passar por tantos fatos vergonhosos, vem mais esta.
    Oh, me deixe!
    Um abração Calu.

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  7. Calu, a maioria dos jovens dessa faixa etária tira o título de eleitor sem pensar na responsabilidade do voto. Pelo que tenho observado, poucos são os que analisam, com seriedade, os problemas do Brasil. São sustentados pelos pais, apenas estudam e têm desejos mais ligados ao campo material. Talvez esteja sendo pessimista e espero estar enganada. Mas essas conversas em filas são muito interessantes. E até abrem horizontes quando caminham para um lado bom, como foi esse seu encontro com as meninas. Bjs.

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!