quarta-feira, 30 de abril de 2014

Daquilo que eu sei e do muito que desconheço










Pra quebrar o gelo no primeiro dia de aula em turmas da EJA, as professoras chegavam em sala de aula munidas de grandes caracteres japoneses recortados em cartolinas coloridas e os distribuíam entre os alunos da turma pedindo que eles tentassem adivinhar a qual letra comparativa do nosso alfabeto eles pertenceriam.A brincadeira tinha o objetivo de descontrair a turma, mostrando que todo mundo é analfabeto em alguma coisa ou em mais de uma e que isso é perfeitamente normal e solucionável.

Eu sou analfabeta em língua japonesa, em mandarim, em italiano,hiiiii, se eu continuar irei encher a página com minha comprida lista do que não conheço e do que até gostaria de conhecer melhor, porém, ainda não houve da minha parte um movimento na direção desses conhecimentos.Descaso, falta de tempo, de motivação?Pode ser tudo junto claramente identificado como desinteresse, o que me causa certo amuo, mas não chega a me perturbar.Diferentemente de outro desconhecimento meu, que me incomoda, me causa mal-estar, aumenta meus desagrados e me entristece...sou analfabeta da confiança nas instituições do meu país.

Tenho consciência disto e já me inscrevi inúmeras vezes na turma de aprendizes.Já me esforcei, busquei, pesquisei, ouvi atenta as muitas declarações dos entendidos ( ao menos assim se intitulam), estudei, prestei exames, mas não tive qualquer sucesso até hoje.Não domino  o sentimento de confiança na classe política brasileira, não decodifico seus signos, não estabeleço relações e me frustro a cada tentativa, que me distancia sempre e mais do meu objetivo.Desenvolvi, isto sim, um sentimento de estranheza que ultrapassa e muito minha altura e ganha os ares com a rapidez dum jato supersônico. 

Percebo que há muita gente no mesma turma que eu, e que se esforça pra adquirir o conhecimento nessa matéria, mas é reprovada ano após ano e acaba por evadir-se da escola da democracia, o que eu lamento verdadeiramente.A enorme lacuna causada pelo analfabetismo nessa área tem dimensões gigantescas que aumentam dia-a-dia.Como termos confiança na saúde pública, na educação, na segurança pública, nas providências urgentes, nos planejamentos a longo prazo, nas resoluções para melhorar a vida nas grandes cidades, no empenho pelo bem-estar social, na valorização da vida, no respeito aos direitos do cidadão, na própria cidadania?Como?

Receio estarmos longe de nos formarmos nessa importante matéria.O que nos consola, como saída é que nós, seguimos nos formando em muitas disciplinas seletivas que nos capacitam em esperança e persistência. 




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11 comentários:

  1. Bravo,Calu!! E serão essas outras matérias, nas quais podemos até chegar à diplomação, que nos fazem ou farão ver o quanto as outras, nada valem nada são verdadeiras e portanto, nada confiáveis, com A ou B que ministre "as aulas"!!! beijos,lindo e feliz feriado.Aqui, parece, será com chuva!! chica

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  2. Também estou nessa turma Calu, total decepção com as instituições…acho que ainda vai demorar um bom tempo para que possamos confiar nelas, então... mãos à obra! Precisamos atingir uma massa crítica para provocarmos as mudanças que tanto queremos.
    Bom feriado!
    Bjs

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  3. Calu:
    Saber e admitir nossas limitações, é o 1º passo, rumo ao conhecimento.
    E nesse caso, VOCÊ já deixou de ser aprendiz há muito tempo.
    Persistência, não lhe falta, embora em alguns momentos a esperança e a confiança deixem de estar presentes...
    A educação no Brasil, já está reprovada e necessitando urgentemente de uma revisão.
    A descrença em soluções que possam modificar esse cenário, faz parte da maioria da população.
    VOCÊ não está sozinha (se é que isso sirva de consolo...).
    Bjs.:
    Sil

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  4. Capacitados na esperança, ficamos. Persistindo vamos seguindo rumo às mudanças! Tenhamos fé! Um beijo para um escrito tão real e consciente!

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  5. Encontrei várias colegas de classe aqui junto com você...
    Desanimada, assim me sinto.

    Mas quando leio sobre pessoas que encontram uma maneira descontraída de chegar a uma turma de EJA com símbolos japoneses, volto a sorrir!
    Beijo.

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  6. Um texto muito bom, Calu!
    Temos muito o que aprender...
    Símbolos japoneses, hum, muito a ensinar!...
    Abraços

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  7. Olá Calu,
    Se fizer a chamada, muitos alunos levantarão o braço, pois a turma vai ser muito grande em busca de alguma esperança. Pena que as mudanças nunca chegam para o bem da educação e do aprendizado. O pior de tudo é que os que podem mudar alguma coisa se encontram às escuras e analfabetos para o despertar de um Brasil melhor.
    Beijos mil

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  8. Calu,sei que não serve muito de consolo,mas vc não está sozinha! Muitos brasileiros tb passam pela mesma situação de analfabetismo diante das instituições publicas. Eu me considero até meio alienada,confesso! É que chega a desanimar tamanho descaso de nosso governo conosco,tanta corrupção e falta de carater! Eu adorei seu texto e disse coisas que tb estão em minha alma! bjs,

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  9. Mais uma coleguinha de classe unindo-se a vocês, amigas.
    Dizem que devemos ter esperanças, mas sei não, tá difícil, complicado demais o nó que a corrupção deu em nossa sociedade.
    Acho que vou aprender hebraico, chinês, qualquer coisa assim difícil, creio que aprenderei mais fácil. rsss
    Amiga, um lindo final de semana pra você e os seus.
    um beijinho carioca


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  10. Turma grande e internacional. Acho que não tenho nenhum amigo que confie no nosso Governo e, supostamente, vivo num continente de "primeiro" mundo. Não só somos uma geração de divorciados com a democracia, mas uma geração sem esperança...
    Abraço desde Portugal, querida Calu, e um doce fim-de-semana
    Ruthia d'O Berço do Mundo

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  11. Confiar em instituições abandonadas e falidas? Tem jeito não. Se hoje eu recebesse minha juventude de volta, com certeza colocaria a "viola no saco e iria cantar noutro lugar". Bom restinho de domingo, Calu. Ai de mim, preciso (re)estudar as disciplinas que me capacitam para a esperança e a persistência! Tsc, tsc.

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