sexta-feira, 15 de março de 2013

Muitas moradas

(baía de Ajaccio)
___ "Parece que moramos na mesma casa!" Foi esta a fala ontem, duma colega de curso em meio a uma conversa coletiva sobre posturas cidadãs e valores positivos, aqueles básicos que recebíamos dos nossos pais e familiares desde a pequena infância e que também passamos aos nossos filhos(as) e outras crianças com que convivemos de uma forma ou de outra. Era comum ouvir dos amiguinhos dos meus filhos que na casa deles também acontecia como lá em casa.Um deles adorava a hora do lanche porque eu passava manteiga e requeijão nos pãezinhos e a mãe dele só deixava um ou outro(rsrs). Mas, no "frigir dos ovos", tudo corria mais ou menos igual nas casas dos mais próximos, desde respeito por si e pelos outros, pela natureza como um todo, pelos direitos e deveres de cada um até os mais simples hábitos cotidianos que vão se incorporando a cada integrante da família mesmo sem haver muita explicação sobre eles, como: a hora das refeições, uso dos espaços da casa, da TV, do pc, do telefone e coisas parecidas.

Este reconhecimento do que nos é familiar é tão forte que mesmo estando longe de casa, ele nos acompanha silenciosamente e, como gostamos de encontrar gente e lugares que nos lembram os gostos e os jeitos. Quando fazemos um programinha de fim de semana queremos passeios que nos afastem da rotina, mas preferimos sabores que nos sejam caseiros.Já perceberam isto? Na escolha entre uma comida exótica e uma caseira, tendemos pela segunda opção, a menos, claro, que tenhamos saído em busca do exótico, ai é diferente, estamos querendo uma vivência estrangeira.Tudo bem, normalíssima escolha. Um sushi, um frango xadrez, umas tapas, caem bem, mas não todo dia. É bom  variar de hábitos ( superficialmente), mas é reconfortante cultivar os já conhecidos.Acho que por isso vibramos tanto quando nos deparamos com singularidades que também são nossas, empatias naturais que acontecem quando menos se espera.

Tenho uma vivência disto bem forte.Aconteceu quando fui à Córsega com minha filha. Nesta ilha ultra-marina de possessão francesa cheia de histórias e personagens marcantes, passamos uns dias aproveitando sol e mar, veraneando como em qualquer região praieira daqui. Na hora da fome, íamos atrás das comidinhas caseiras deles e uma vez demos com um restaurante típico ao meio duma das serras que estão por toda parte da ilha.Funcionava no quintal da casa dos donos.Chão de terra batida, mesas com ombrelones debaixo de árvores frondosas, muitas florezinhas rasteiras e uma simples bancada de madeira aparava os serviços.Fomos muito bem tratados pelos proprietários que se diziam muito contentes em estarem conhecendo brasileiros.Enquanto almoçávamos, o filho do casal cuidava do atendimento, o netinho pequenino andava entre as mesas recebendo agrado dos clientes, um gato preguiçoso dormia nos degraus do alpendre e a tarde prosseguia tão familiar que me vi naquela casa antiga e amiga, naquele quintal apomarado, naqueles afazeres tão semelhantes a qualquer um de nós, ali em meio ao Mediterrâneo azul, tão lindo quanto o meu Atlântico. 




Não sei se a satisfação no familiar é tão igual a do diferente, acho que as duas experiências guardam seus valores únicos; quero um pouco de cada, cada uma a seu tempo propício, afinal, é bom sabermos que desfrutamos da "mesma casa". 
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26 comentários:

  1. É neste balanço do que nos é familiar e do estranho que construímos os nossos recursos pessoais que vai se constituindo num tesouro transgeracional.
    bjs. Bom final de semana

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  2. Que lindo te ler e tão bom quando sentimos essa afinidade de emoções parecendo ter vindo da mesma "casa". E no fundo, todos viemos! Lindo te ler! beijos,chica e ótimo fds!

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  3. Olá!
    Calu
    Tudo bem?
    eu estava aqui pensando,sobre o texto e ao mesmo tempo, imaginando como seria Córsega. Muito bom, o texto
    !Bem, eu penso que o hábito de certas condutas validam-nas.
    Esse viés da singularidade acontece muito porque , penso eu, temos a tendência de julgarmos ou acharmos de forma mais positiva quando algo/coisas/pessoas/hábitos/lugares tem semelhanças com nossos
    gostos/valores/rotinas...só não gosto ,quando as utilizamos para um sentido único... nada se constrói, tudo está lá, o esforço é mínimo e a imaginação vai se acostumando.
    fuiiii
    Boa noite
    Bom final de semana
    Beijos

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  4. Que bela história, Calu!
    Me fez lembrar alguns restaurantezinhos pitorescos que temos aqui encravados pelas encostas da iniciante Mantiqueira.
    Beijo interiorano.

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  5. Olá Calu!
    É tão bom quando , bem longe de casa, encontramos" almas gémeas".
    Dá uma certa paz, um conforto muito grande e fica uma amizade para o resto da vida. Gostei do teu texto,amiga!
    Um abraço.
    M. Emília

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  6. Olá Calu,
    Sair da nossa zona de conforto, muitas vezes não é agradável. O bom é sentir, mesmo que distante de casa, algo que nos remeta aos nossos costumes e valores, né?
    Às vezes, pensamos que aqui ou acolá tudo é super diferente, mas na verdade existem muitas igualdades... O mar aqui é tão azul quanto do outro lado...E por ai vai...
    Confesso que experimentar algo novo é bacana para sair da rotina e nas viagens isso acontece muito.
    Beijos mil e bom "fim" de semana...rs

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  7. Calu,concordo com vc!O que nos é familiar vem como um aconchego e isso só pode ser bom!Excelente sua reflexão!bjs,

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  8. Oi Calu!

    Menina, e não é que você tá certa?! Nunca tinha parado pra pensar sobre isso. Sempre que viajo eu busco coisas que lembrem sempre minha origem, minha rotina...
    Vou lembrar desse seu post sempre que sair e tentar escolher algo diferente, algo do lugar, dos sabores do lugar.

    Beijos

    Selma

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  9. Calu, saudades!

    Gostoso te ler, embarcar com você nas palavras e poder dizer que assino embaixo, pois quão aconchegante é essa sensação de "nos sentirmos em casa" , mesmo quando não estamos.

    Brigadinha pelo teu carinho lá no meu cantinho...tomara que quando me visite se sinta no teu cantinho também...rs.

    Beijos de um final de semana de muita paz.

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  10. Pois é, amiga, mesmo às vezes longe do nosso habitat, podemos sentir ou conviver com ambientes, pessoas ou coisas muito parecidas com nossas origens. Eu costumo observar muito isso quando viajo pra longe daqui, por vezes já tive até aquela sensação de déja vu, muito legal.
    É como no poema igual-desigual de Drummond, ou seja, tudo parece sempre igual aqui ou acolá, mas nós, seres humanos, é que somos diferentes, únicos.
    Outra coisa que já está até ficando chata, é o fato de neste mundo globalizado, o que tem lá, tem aqui, igual ou quase igual. Mas, no âmago da vida, o ser humano e suas questões e sentimentos, parecem iguais em todo lugar.
    Bom demais esse tema para reflexão .
    Um beijo carioca debaixo do ar condicionado.


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  11. Olá Calu, agradeço por comentar lá no Espelhando e Espalhando Amigos, é que aos sábados eu posto por lá.
    Gostei da reflexão, pareca que sempre as lembranças nos remete aos lugares que ficam encostrados em nossos pensamentos.
    Isso é é bom para vagarmos em silêncio, como se um filme fosse.
    Abraço

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  12. Oi Calu, dizem que a familiaridade traz sentimento de segurança. Assim, sempre que algo nos soa a habitual, logo descontraimos porque sabemos como vamos reagir.
    Quando estamos fora de casa, ou fora do país, apesar do deslumbramento pela novidade, sabe bem sentir nuances de algo conhecido.
    As lembranças da infância são as melhores porque são parte integrante da nossa constituição humana. Todo o Ser precisa de raizes.
    Beijinhos de agradecimento pela visitinha.
    Rute

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  13. É Calu... muita rotina cansa e muita novidade exaure.
    Acredito que o mais (digamos) saudável seja mesclar a rotina com alguma novidade. Assim conseguimos assimilaras novidades, né?

    Abração
    Jan

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  14. Oi Calu
    Eu também sou bem caseira, tradicional eu diria. Agora Córsega, vc esnobou einh amiga kkkkkk.
    Bjos.

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  15. Que lindo... Nossa ao ler a descrição do restaurante.. parece que estava lá com você, olhando o gato preguiçoso louca pra apertar srsr
    Escreve tão bem amiga.. que nos encanta e nos prende..
    Adoro!!
    Estava com saudade desse cantinho..

    Um super beijo e uma noite especial viu?

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  16. Se a tristeza vier por qualquer motivo,
    Evite as sombras que ficaram para trás,
    olhe o caminho a sua frente e siga sempre.
    Assopre o pensamento triste,
    deixe escorrer a última lágrima,
    vá até o final do poço, mas volte renovado.
    Então respire fundo tirando da
    natureza a energia para elevar sua alma.
    E a paz que você procura será encontrada dentro de
    você onde DEUS deixou um pedacinho de si.
    Uma semana na graça e na paz de Jesus.
    Beijos no coração carinhos na sua alma.
    Evanir..Minha mensagem com muito Amor

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  17. Olá Calu,

    Quando viajo, procuro sempre escolher o que se aproxima mais do que me é familiar. Rotina cansa, é verdade, mas muita diversificação enjoa e traz de volta a vontade de retornar ao habitual.

    Beijo.

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  18. Calu, o mundo , tão grande, é como uma pequena casa. Em todos os lugares acabamos nos identificando com algo semelhante ao que trazemos dentro de nós, hábitos e lembranças. E isso é reconfortante. Sou amiga do que já conheço e gosto de sentir sensações semelhantes às da minha rotina. Bjs.

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  19. oi amiga Calu
    Vim retribuir e agradecer sua presença no meu cantinho. Hoje venho te fazer um pedido. Eu estou participando da 2ª gincana no blog Ô Trocyn Bão”com o poema “Mulher... Obra perfeita” . Venho pedir o teu voto. Acesse o link http://www.riosul2012.com/2013/03/sou-mulher-gracita.html e leia o poema. Se achar que mereço vote em “Gracita” na lateral esquerda do blog. Grata pela atenção e carinho que sempre demonstra por mim.
    Beijinhos com ternura
    Gracita

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  20. Olá Calu,um excelente texto abordando esta temática do que nos é familiar mesmo para além de portas! Eu sinto assim e aprecio imenso quando viajo ficar em lugares simples que me façam sentir como em casa. A sua história fez-me lembrar passeios que tenho dado pelo Norte de Portugal, onde há restaurantes no meio de hortas, de quintas, simples e onde somos muito bem acolhidos por pessoas que nos consideram como de família. É assim que gosto. Um beijinho e excelente semana. Ailime

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  21. Olá, queria amiga Calu
    A familiaridade nos enobrece seja qual nível social vivemos...
    Cada um tem sua base familiar (mesmo que tenhamos sido adotivos) e a carregamos comas devidas ressalvas ao longo das nossas vidas...
    Post muito bem feito como é do seu estilo e me fez pensar que a última vez em que fiz frango xadrez foi o último jantarzinho antes do meu netinho nascer pra minha filhota que nem dormir nesta noite pode pois saiu pra Maternidade à meia noite...
    Seu post me foi familiar...
    Bjm de paz e bem

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  22. Oi Calu! Falar de como éramos educados e como respeitávamos aqueles ensinamentos também me dá saudade. Sou educador e tento repassar os conceitos básicos para se viver e conviver numa sociedade tão mista como a nossa, mas percebo que a moçada não está fazendo a lição de casa e os pais nem estão preocupados com isso. Pena! Os valores estão se perdendo.
    Interessante quando nos deparamos com outras culturas. Aprendemos muito e as comparamos com a nossa e vemos, com tristeza que algumas ainda conservam boas formas de viver, enquanto outras se perdem no funk da vida.
    Tenha sempre bons dias!

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  23. Querida Calu, este belo texto me faz lembrar de quando saio do meu âmbito familiar, num primeiro momento, para apreciar algo diferente como comida, cultura, hábitos... porém, ao final, sempre me pego em busca de algo que me faz retornar aos costumes pelos quais fui criada, é engraçado isso! rs Parece que fico procurando a minha "zona" de conforto, rs. E quando chego na minha casa, de fato, sou invadida por um sentimento de alívio, prazer, sei lá... é como diz aquele ditado: viajar é bom! Melhor ainda é poder voltar pra casa! :))
    Linda semana pra vc!
    Bjsss
    Vivendo e Aprendendo

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  24. Olá!
    Calu
    Obrigado,viu! Pelo carinho da visita!
    Bom início de semana! Paz e luz!
    Beijos

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  25. Boa noite minha linda , que belo texto
    e faz a gente refletir em muitas coisas
    Falar de família é bom demais, gostei
    abraços com carinho
    Rita!!!

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  26. O texto faz a gente pensar e recordar... Também penso que os dois são importantes - o familiar e o diferente/o novo. As duas experiências me fazem bem! Bjs.

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!