sábado, 12 de janeiro de 2013

A Voz das Coisas


Ainda estou movida ao clima das festas recém-acontecidas, até porque só ontem consegui por a casa toda de volta ao lugar.Roupas de cama e mesa, utensílios, cozinha, decoração de Natal, que mal coube na caixa destinada porque a cada ano tem umas coisinhas novas que vão se somando às antigas e o conjunto só aumenta.Em guarda daqui, lava dali, arruma de lá, estava eu em meio a dobra cuidadosa da toalha de natal, tenho duas que se revesam ano a ano, quando recordei a fala da minha filha que a batizou "das antigas".E é mesmo antiguinha, tratada com muito carinho pra atravessar ainda muitos natais sendo personagem coadjuvante, suporte de caprichos que cercam seu uso.Desde a participação no meu gesto ancestral de pegá-la por duas pontas, sacudi-la ao ar e vê-la pousar suavemente sobre o tampo da mesa até o instante quando voltou limpinha e dobradinha pro gavetão, onde repousará até o próximo 25 de dezembro.

Eu a considero um "objeto que fala", a mim, à minha família, e mesmo que um dia ela já não possa ser utilizada com o fim a que foi feita, arranjarei uma segunda opção para poder não perdê-la para o tempo.Há objetos assim, que nos acompanham discretamente, porém, mais presentes do que às vezes percebemos.Eles fazem parágrafos em nossas histórias que compõem um texto significativo.Há outros que não atingem este pódio e passam sem deixar vestígios, aqueles que facilmente doamos.Já os outros, os que nos falam, provocam uma dorzinha fina ao serem descartados seja por que motivos forem.Pode acontecer de no meio duma mudança de casa, descobrirmos que a cadeira da vovó não cabe de jeito nenhum.Então o melhor é doá-la aonde será mais útil, e lá se vai ela na caçamba dum utilitário levando no espaldar nosso olhar saudoso.Consola a gente o ato da doação e sabermos que aquele objeto estará na fala dos que conviveram em sua existência, tipo:  __ "Lembra daquele dia de chuva que a vovó leu aquela lenda? Ela sentada na sua cadeira e nós esparramados pela almofadas do chão."

Quando são pequeninos os objetos falantes, facilitam nosso cuidado, ocupam pouco espaço e ainda são utilizáveis.Bem verdade que há alguns que não tem outra função se não a de ornamentar, como lembrancinhas de viagem, mesmo que sejam horrendas,o que importa é o marco que representam.Eu acho assim e, atire a primeira pedra quem não tem algo meio estranho em lugar de destaque.Como gosto não se discute, cada qual traduz seus símbolos concretos do jeito que escolher.Há que se ter um pouquinho de critério quando for usar um espaço comum da casa, como a sala, por exemplo, onde o gosto de um pode incomodar o gosto dos outros.Nada trágico, mas incômodo no visual cotidiano.Já passei por tal situação quando ao primeiro ano de casada, meu marido chegou em casa abraçado numa escultura de madeira de mais ou menos 1/2 metro, retratando um pegureiro.Uma obra de arte, sem dúvida, mas que não me tocou.Era grande pra qualquer local que eu a apoiasse e acabou ficando no chão entre um vão do buffet com a parede da sala.Todas as manhãs, ao atravessar a sala indo pra cozinha, lá estava ele me olhando com aqueles olhos tristes, ombros arqueados pelo cansaço da lida, parecendo que suspirava lamentos... e eu suspirava também.Quando minha filha mais velha começou a engatinhar, se apoiava nele pra ficar de pé e o coitado tomou muitos tombos.O marido vendo que aquilo não ia dar certo, colocou-o deitadinho em cima da estante e lá ele ficou até que foi presenteado ao irmão dele.Agora seria minha cunhada que teria de arrumar-se com o pegureiro.Juro que não lamentei (rs), mas fui solidária com ela sugerindo que o ajeitasse num cantinho pouco visível.

Hoje só tenho objetos falantes queridos, não são muitos, nem grandes, mas cheios de histórias que calam a voz física e soltam a ancestral, aquela que nos religa a outros tempos, momentos preciosos guardados na memória afetiva e também na desenhada  pela forma de cada objeto que nos fala.
***** 
Imagem: pinterest

18 comentários:

  1. Calu, eu tenho um objeto muito especial, que pode ser conferido em uma participação em uma BC chamada 7 Fatos Marcantes da Minha Vida.
    Mesmo eu não sendo católico, tal objeto tem um valor indescritível para mim, simboliza a prova da existência do amor incondicional e só repassarei a alguém quando sentir por esta pessoa o mesmo, ou levarei comigo pro além. ahah.
    Mas no geral, eu não costumo ter apego a coisas materiais. Tá, confesso que tenho ciúmes de alguns CD´s e DVD´s edições limitadas, mas só. E claro, algumas lembranças de viagem, mas eu as deixo guardadas, não expostas em meu quarto.
    Bom fim de semana parceira.

    => CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...

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  2. I love old and vintage stuffs. more old more stories written on them.
    Happy tiding up ;)
    have a nice weekend Carmen
    hugs

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  3. Que lindo e ainda bem que temos coisas assim que falam e fazem elos,não? Adorei! beijos praianos,chica

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  4. Vim à net para encontrar novos amigos e ao mesmo tempo divulgar meu blog, encontrei o seu blog, e estive a ver algumas postagens e achei o seu blog muito bom, tenho de lhe dar os parabéns, pois é um blog que dá sempre vontade de vir aqui mais vezes.
    O meu blog é o Peregrino E Servo, se tiver tempo ou se desejar pode fazer-lhe uma visita e se gostar faça o sentir no seu coração, saiba porém que nunca deixei alguém ficar mal.
    Desejo paz e saúde para si e para o seu lar.
    Sou António Batalha.

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  5. Calu, que maneira grandiosa e rica vc tem ao narrar fatos corriqueiros. Amo ler-te! Grande abraço!

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  6. É Calu, a voz das coisas que amamos é a voz do nosso coração... e algumas coisas falam alto e claro.

    Abração
    Jan

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  7. Calu
    Vc sabe expor com maestria nossos sentimentos, qtos objetos carrego pela vida...Eu bordo, eu costuro mas você, sem dúvidas, borda as palavras e costura os sentimentos!!!
    Que lindo...
    bjim
    Laurinha

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  8. Querida Calú,
    Os elogios que me teceu lá no blog são retribuídos aqui em dobro, pois um texto assim dá gosto de se ler e comentar, porque não só divaga sobre o tema, mas faz uma reflexão profunda sobre estes valores em nossas vidas.
    Eu também sou assim como você, guardo poucos, mas expressivos objetos que, pelo menos pra mim, tem muito valor, como uma toalha de natal da Ilha da Madeira que ganhei da mãe de uma grande amiga minha e que me gostava como uma filha, todos os anos ela vai pra mesa e uma outra 'relíquia' e que guardo só pra mim numa caixinha prateada que são as pétalas da primeira rosa que meu marido me deu, quando namorávamos ainda, tenho também um lindo e pequenino missário em madrepérola, dos tempos em que ia a missa na adolescência. São coisas que gosto de ver, dar uma espiadinha de vez em quando e o valor, só mesmo pra mim, pois ninguém iria querer roubá-los por valer alguma coisa.
    Adorei este tema, pude me expressar muito e daria até um post, mas fica para uma próxima vez.
    beijos grandes, cariocas e fresquinhos



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  9. Olá!Boa noite!
    Calu
    Tudo bem?
    Gostei do seu texto.
    ah...todos nós temos apego à algo. Banais, sentimentais, colecionáveis, oportunidades, falantes etc...Já fui mais.Motivos de "Natal" , como toalhas ou enfeites, eu não tenho. Porque todo ano eu troco.Mas, meu albúm do meu time, Santos, é atualizado todo ano, e carrego por todo lugar possível. E é pesadinho. Tamanho igual à um de fotografia normal.
    Belo domingo!
    Beijos
    ClicAki Blog(IN)FELIZ

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  10. Olá Calu,
    Achei muito interessante esses objetos falantes. Tenho um monte aqui em casa. Alguns não tão falantes assim, mas dou logo um jeito neles.rsrs.
    Confesso que logo depois do natal eu não gosto de enfeite nenhum na minha casa. Nem espero o tradicional dia 06 para guardar tudo em suas caixinhas. Realmente, de um ano para outro as coisas se multiplicam. Temos que desapegar e doar mesmo.
    Boa semana.
    Estou com mais um blog. www.teredecorando.blogspot.com
    Beijos mil

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  11. Muito interessante sua colocação, não havia ainda pensado sobre esse prisma. Eu não tenho falado muito com meus objetos. Esse ano, por ir viajar no dia 26, fiz uma decoração prática para guardar antes daa viagem.
    O que observo é que tenho buscado não reter objetos quando eles já estão sem uso.
    bjs

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  12. OI CALU,

    Amei o seu texto. Me identifiquei com tudo o que você disse com mestria. Gosto de ler-te.
    Só tem uma diferença . Neste 2013 ficou comigo algumas pendências de 2012. Uma voz que fala:
    Você não terminou de arrumar as coisas do porão. Até estou evitando ir para lá para não ouvir essa voz gritar ainda mais alto. he.he.he.

    UM FELIZ ANO NOVO PARA VOCÊ.
    BEIJOS

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  13. Sobre esses objetos costumamos dizer que possuem valor sentimental e por isso não podem ser descartados rsrs, adorei o post, bjus!

    rebeca-mello.blogspot.com

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  14. Oi Calu!!! Adorei o texto, menina! Sabe, no meu blgo há uma tag que se chama o cotidiano ensina...nela também me inspiro em objetos para tirar lições. Curioso, não?
    Concordo que há objetos que tem história guardada, como se fosse uma espécie de chave de portal que pode nos transportar para algum bom momento do passado. eu tenho duas peças de roupa marcantes guardadas: uma camiseta que eu estava usando no meu primeiro beijo e um vestido que eu estava usando quando conheci o amor da minha vida.
    Esses objetos independem do valor monetário...o valor deles está muito além disso.
    Um abraço!

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  15. Nossa que lindo post.. Gostinho de saudade..
    De relembrar velhas histórias.. como você disse os objetos possuem as suas.. e quando olhamos pra ele podemos nos lembrar..
    Vixi que veio tanta lembrança boa aqui agora rsrs
    um beijo minha linda e uma tarde especial viu?

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  16. Você escreve muito bem, gostoso, leve, tranquilo... Gosto de vir aqui...
    E se você gosta das Entrevistas do Projetando Pessoas, hoje está imperdível, coletânea dos melhores momentos de 2012!!!
    Ficarei feliz com a sua visita.
    bj Sandra
    http://projetandopessoas.blogspot.com.br//

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  17. Esses objetos que falam conosco são, de fato, os mais antigos, aqueles que fizeram ou participaram de nossa história de vida. Muitas coisas são descartáveis, trocamos, doamos. Guardo com carinho os que foram feitos por minha mãe. Não são modernos, mas muito belos, como colchas de crochê. Ocupam espaço nos armários mas não conseguiria me desfazer deles. Bjs.

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  18. Engraçado como certas peças adquirem vidas em nossas vidas.
    Esta toalha na sua bela descrição podemos ve-la exuberante e garbosa na mesa.
    Belo texto amiga.
    Carinhoso abraço.

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Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!