A força de uma poesia
Semana passada num trecho de entrevista no programa da TV Escola, abordando o incentivo à leitura em seus variados gêneros, o escritor Rubem Alves lembrou trecho do filme O carteiro e o poeta para dar exemplo da força que uma poesia pode ter.
No filme, existe uma senhora, dona de um restaurante, que tem uma neta, uma moça muito bonita. Um rapaz da aldeia é apaixonado por ela e a velha vive a vigiar os dois...
Certa noite, a jovem demora a chegar em casa e a avó fica louca de preocupação. Mal sabe que estão juntos na praia, mas na maior inocência, sem fazer nada demais.
Assim que ela retorna ao restaurante, a avó pergunta:
__ Aonde você estava?
A moça conta a verdade.
___ Ele fez alguma coisa com você? __ continua, sacudindo-a.
___ Ele me disse uma poesia.
A velha suspira:
___ Então você está perdida...
***
Imediatamente o episódio relatado me jogou no balaio de lembranças juvenis.A situação era idêntica à que eu vivi na companhia de meu primeiro namoradinho.Ambos cursávamos o 4º ano ginasial em colégios diferentes.Naqueles idos de 1970, muitas famílias mantinham as rédeas curtas com os enamorados e comigo se dava assim.Dias de namoro eram as terças, quintas, sábados e domingos das 19h às 22h, e ponto final.
Ele( o namorado) se queixava de nunca podermos dar um passeio, tomar um sorvete, pois se pedíssemos à minha mãe permissão, ela mandaria minha avó nos acompanhar e nós ficávamos com pena de incomodá-la após um dia de trabalho em sala de aula, além do que queríamos um tempinho sozinhos, mesmo que cercados de outras pessoas. Então, nos resignávamos e ficávamos no portão conversando com os amigos e amigas da rua que eu morava.
Num belo domingo ele me propôs, que no dia seguinte depois da aula, fôssemos lanchar numa lanchonete nova que abrira na rua do cinema Icaraí. A aventura me tentou e concordei.Dia seguinte, hora marcada, pego o ônibus e lá vou eu pro encontro com o coração aos pulos.Ele já me esperava na porta da lanchonete com os livros no braço e um sorrisão no rosto. Sentamo-nos, pedimos, lanchamos nos sentindo um verdadeiro casal.Às 14 h, já estava eu dentro do ônibus a caminho de casa. Cheguei tão sorridente que minha mãe logo me interpelou por onde eu havia andado até aquela hora. Contei tudinho e expliquei que se tivesse pedido ela não me deixaria ir.
O teto desabou na minha cabeça. Fiquei de castigo uma semana e nada de namoro, nem por telefone.Me senti culpada por ter omitido "o encontro" fora das vistas dela, mas foi um passeio inocente de dois adolescentes brincando de gente grande.
Minha mãe não acreditava na força de uma poesia. Uma pena!
Imagem: ilustração by Fletcher
Muito interessante esta relação poesia e namoro.Deveria ser o casamento perfeito Calu.Mas voce me fez lembrar dos meus namoros tambem pelos anos 70.Parece uma regra geral,pois por lá tambem eram dias alternados,mas nada de sair sozinho,tinha sempre um pirralho para vigiar.Belas lembranças amiga.
ResponderExcluirMeu terno abraço.
Bjo.
Que pena mesmo....
ResponderExcluirTão romântico.... tão em falta hoje em dia....
Antigamente era assim mesmo: rédeas curtas, castigo... e, não adiantava nada!
Beijos.... ótimo restinho de semana!
Lindo e doce texto... Desde o início, falando do filme que foi uma verdadeira maravilha... Depois, teu namorico inocente mal interpretado ,que acabou em castigo.
ResponderExcluirEra assim... Sabes, acho que às nossas mães faltava inocência e viam mal em tudo...
Lindo, adorei e me vi bem no quadro...
beijos,chica
Esqueci: obrigado pela linda interação. Já está lá! bjs.chica
ResponderExcluirA MINHA TAMBÉM NÃO CALU... QUE PENA, NÉ?;-(
ResponderExcluirABRAÇÃO JAN
PS:Eu também vi O CARTEIRO E O POETA...
Ai, minha querida Calu, nenhuma delas acreditava, né não?
ResponderExcluirE vc foi muuuito corajosa! Eu já estava noiva e "permiti", quase me borrando, que o meu noivo fosse me buscar na porta da faculdade, imagine! Isso pq iámos escolher as alianças para o casamento!
Mamãe sabia e eu já tinha praticamente 20 anos, mas ouvi um discurso daqueles recomendando inúmeros cuidados!
Mas sabe porquê? Pq a minha mãe não apenas sabia da força de uma poesia: sabia tb da força dos nossos hormônios em plena profusão! rssssssssssssssss
Bjsssssssssssss, quérida!
Esabe por quê? porque a minha mãe, com certeza, sabia
Bom dia,Calu!!!
ResponderExcluirQue coisa,mais linda!!!Uma pena que alguns pais não entendem a inocência, a pureza dos sentimentos...
Que presente lindo me deste!!Tenho um amor pelas histórias vividas,que você nem imagina!MUITO OBRIGADA POR PARTILHAR!!!!
Devo me sentir assim por causa de minha avó,uma contadora de histórias que na minha infância instigou minha imaginação!rsrs
*Vou ter que ver este filme(O carteiro e o poeta)acredita que ainda não vi?!!!
Te adoro,minha amiga!!!!Beijos e meu carinho!!!
Querida Calu,
ResponderExcluirDemoro, mas não tardo, é que minha conexão aqui na serra anda congelada que nem meus dedinhos. hehe
Nossa, esse filme é fantástico, muito cheio de doçura e exprime sentimentos que nós também passamos por eles na idade juvenil. Minha mãe até que era boazinha neste sentido, mas meu pai, nossa, o italiano não era mole, via maldade em tudo e se algo desse errado ele punha a culpa em minha mãezinha, tão doce, meiga.
Poxa vida, não sabia que meu ídolo querido esteve na televisão, adoraria ter visto este programa que nos fala, mas a tv aqui ultimamente, só dá ESPN com os jogos olímpicos que meu marido não pode perde, mas eu deixo, afinal ele está de férias né mesmo?
Semana que vem, quero te abraçar pessoalmente e festejar juntas seu aniversário.
um grande abraço carioca da serra.
Olá,querida Calu
ResponderExcluirTive um namorado assim (o príncipe - recém saído do Seminário - que dançou comigo nos meus 15 anos)... ele me conquistou pela poesia e me ensinou latim também... Já gostava de estudar e R.C embalava nossas tardes de Domingo estudando e meditando nas letras... ele era poeta na essência da alma...
Após a entrada pra faculdade pudemos sair sozinhos finalmente, depois de termos sido barrados no cinema pois desconfiaram que eu não tivesse os 18 (tinha 17 e queríamos ver Lagoa Azul, na época)... Tudo muito inocente mas a maldade alheia não permitiu que o sonho realizasse...
Seu post me fez recordar aquela fase de adolescente...
Agora, passou e ponto final!!!
Li um livro ultimante do qual vou postar no início do mês que frisa bastante a questão de como é um poeta e como ele nos põe a "perder"...
Agradeço o seu carinho na Série Comemorativa do meu blog pelos seus 3 anos de vida.
Deus te cubra de bênçãos e te faça feliz!!!
Bjs festivos de paz
P.S. Viajei no seu post...
Calu
ResponderExcluirQue lindo.
Naquela época só era permitido o namoro acompanhado da mãe ou alguém da família. Lembro-me que tinha um primo que me vigiava quando encontrava com o namorado na Igreja (nas novenas e quermesses) na mais pura inocência. Era lindo e poético.
Adoro te ler.
Beijos.