Não é espanto pra ninguém o que já vem acontecendo há mais de 4 décadas nas grandes cidades brasileiras:a desmedida e voraz expansão imobiliária.Não tem muito tempo , contei por aqui os descalabros que acontecem em minha cidade, Niterói.Foram autorizados nestes quatro últimos anos a construção de 105 novos prédios de alto gabarito, sem que tenha havido um estudo sobre o impacto ambiental e social disto.Claro, os cofres da prefeitura( ?) estão com a burra cheia , então que se dane o mundo; no caso nós, cidadãos contribuintes.
No início de janeiro, fui sondada por dois indivíduos a respeito de um suposto interesse em vender minha casa.Disse-lhes um Não tão redondo, que eles seguiram rua abaixo rapidinho, indo bater na vizinhança. Niterói tem estado nos últimos dois meses, nas páginas policiais dos jornais, mostrando um sorriso desdentado que lhe foi imposto pelo descaso do poder público municipal e estadual. Resultado: caos no trânsito, caos nos fornecimentos básicos de água e luz, caos na segurança, caos no cotidiano, antes tranquilo.
Embora o valor monetário dite as regras nestes casos, vê-se que está havendo um fortalecimento de outra moeda, que não é corrente, mas valiosa: o espaço natural.Contam-se em pequeno número( creio),aqueles que possuem um espaço-jardim-quintal ou algo semelhante onde podem desfrutar de umas santas horas ao ar livre e ao seu bel-prazer. Depois da moeda-espécie, da moeda-tempo, chegou esta, a moeda-espaço, que sustenta sua força na resistência ao avanço imobiliário devastador.
Vi reportagens esta semana, sobre movimentos no Congresso para destombamento de áreas tombadas( reservas florestais urbanas) no Rio e em São Paulo.
A ganância dos empreiteiros e políticos não tem limites.Não tem,porém, não vão levar tudo na mão grande e ficar por isso mesmo.Ah, isso é que não!Vamos fazer muito barulho, muita participação popular, ainda mais neste ano de eleições.
Como disse Lulu Santos ao fim dum espetáculo, semana passada, numa cidade do interior, agradecendo às autoridades e á prefeita e sendo vaiado pelo público por isto, replicou:
"__ Quem elegeu a prefeita daqui, foram vocês!"
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''Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. (...) Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos (...).''
Trecho de : Memória Inventadas: a infância,
Manoel de Barros
Imagem: Up-Altas Aventuras