As palavras se estocavam debruçadas umas nas outras, esperando.
A escritora via o sol, sentia a brisa, olhava a lua.
E nada escrevia.
Chegava o Natal, o Carnaval, a Páscoa...
Nada.
Lápis, caneta, papel, tablet, computador, máquina de escrever(!?), cadê?
As palavras estavam revoltadas, ensaiavam uma rebelião.
A escritora continuava dormindo, à sono solto.
Chega de poesia!
Então, vamos à prosa.
Chega de prosa!
A escritora ouvia delações, reclamações, discussões.
Tudo inútil.
Silêncio.
Psiu! Fiquem quietos, a escritora está dormindo.
As palavras se desmancharam em letras perdidas.
Se uniram em línguas desconhecidas.
Enlouqueciam esquecidas.
Acorda, escritora, acorda!
Gritavam, gemiam, choravam, sussurravam.
Um olho piscou, um braço espreguiçou...
As palavras se abraçaram:
A escritora ACORDOU!
( poema de Regina Helena Dias, in: Coletânea Sumo/2019)
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