domingo, 28 de novembro de 2021

Um conto contado



Ela era um brotinho tímido semi-pendente na rama menorzinha do caule. As pessoas nem a percebiam. Só tinham olhos pra exibida estufada bem assentada na ponta mais alta da folhagem. Ela não se importava. Tinha certeza que seria muito mais bela que aquela metida lá de cima.

Abriram suas pétalas quase que simultaneamente. A primeira farfalhava à passagem de qualquer brisa mais forte, enquanto ela meio escondida pelas folhas verdinhas ficava protegida das intempéries e da sanha dos predadores.

Foi curta a vida glamorosa da dona do caule. Teve seus dias de brilho, mas, rapidamente perdeu o viço, embaçou as pétalas que amarelavam da ponta para a corola mudando a textura antes sedosa em palha quebradiça.

 Ela viu cada fase acontecida com a primeira e decidiu que com ela seria diferente. Guardaria em si toda força que lhe coubesse para renascer sempre com mais vigor. Como foi capaz de tal proeza? Ninguém nunca soube explicar, mas, era de conhecimento dos frequentadores a presença elegante dela: a magnólia maluquinha, que florescia em todas as estações naquele pequeno jardim. 



sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A Chave do Saber

(*)

 Quando o engenho humano criou um objeto capaz de, a um simples giro, abrir ou fechar passagens, alçou mais um degrau do progresso criativo da humanidade. Registros constam que chaves e respectivas fechaduras datam do antigo Egito há mais de 4000 anos, sem provocar nenhum alarde exposto no cinema ou na televisão(rs).

Nas asas da velha oralidade correu de Menphis à Tebas a notícia da engenhoca que dava segurança às casas e seus moradores. Daí, para adentrar nos palácios  com seus tesouros inigualáveis, foi um pulo inovador e histórico.

Correram os séculos e a chave foi sendo aprimorada, adornada, elaborada para uma eficiência cada vez maior em seu uso, contudo, em vias paralelas acontecia surpreendente atribuição ao objeto, que creio eu, não tinha afigurado nos propósitos do inventor: como adjetivo das emoções.

Abriu-se um campo farto nominativo para os escritores, poetas, românticos de todas as épocas a utilizarem uma chave figurativa em suas intenções. A chave abria versos para destrancar corações fechados. Abria portais de mundos mágicos. Abria tramas detetivescas. Abria sonhos, histórias, canções, segredos bem guardados. 

Uma porta que contivesse uma fechadura art-noveau era tida como obra de arte podendo até figurar em exposição, o que seria de agrado de alguns apreciadores; noto, atualmente, serem  poucos os que percebem a importância deste invento, até o dia em que esquecem a chave de casa no escritório ou a chave do carro dentro dele, neste caso só o chaveiro salva a situação. 

A chave é tão milenar quantos as pirâmides e, como elas, continua a causar assombros em todas as idades, sim, pois, desde os primeiros conhecimentos na língua e na linguagem é preciso que cada aprendente descubra a " chave da leitura" para abrir as associações na formação das palavras e adentrar no mundo da leitura e da escrita com propriedade.

Como utensílio ou como aporte artístico, antiga ou moderna, a chave atravessa os primórdios da nossa história avançando os séculos reinventada, mas, essencialmente preservada na  originalidade para a qual foi atribuída:  abrir e fechar passagens.


(*)- pinterest/devianart

sábado, 13 de novembro de 2021

Travessias




 Quando criança, eu não media a importância da mão forte que me segurava ao atravessar a rua. Sentia-me segura, mas não sabia dar nome ao ato corriqueiro incorporado aos hábitos em travessias de ruas. As advertências eram constantes, mas eu nem as achava tão necessárias assim...achava, deixei de achar quando avancei na vida adulta me deparando com as inúmeras travessias impostas pela vida.

Vi, consternada que não tinha mais uma mão forte pra me guiar os passos, uma voz firme a repetir cautelas, um abraço a dar-me ânimo e incentivos. Isto constatado, visto e sabido, mas não apaziguado. Eu estava agora diante da primeira travessia logo após o portal onde se lia: vida adulta. A paisagem era ao mesmo tempo, sedutora e ameaçadora. As sensações retumbavam na mente e no corpo em variados ritmos enérgicos, que me causavam mais medo do que coragem.

Agora não havia mais recuo. Não havia opção de voltar ao tempo de outrora e segurar com força a mão afetuosa que me conduzira até ali. O próximo passo efetivaria que o avanço era inevitável e o curso dos dias transcorreriam de qualquer forma, então, melhor seria que transcorressem desenhados por mim.

Busquei em minhas raízes a história que me moldou. Olhei pro mundo com determinação e respeito. Alinhavei meus passos nos exemplos refletidos pelas boas escolhas vividas e fui avaliando as possibilidades de travessias seguras. 

É a soma dos acertos com a subtração dos erros que ordena as operações na matemática da vida!


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Muitos ninhos



Achar histórias que levam a outras histórias e vão assim laçando situações coincidentes( ou não) atraídas por nossos interesses, são muito recorrentes.

Venho lá da Verena,bichinhosamados.blogspot, em seu post tocante às fibras de um coração materno vibrando na leitura da crônica belíssima de Rubem Alves; ah, o mestre Rubem, sempre sensível como cordas de um violino.

Pois sim, o tema caiu-me aos olhos, assim que parei em frente à tela vinda da ligação em vídeo triplo com três dos meus grandes amores, meus filhos, que moram em outras cidades. Falação solta, risos descontraídos, causos e circunstâncias compartilhados e acolhidos com amorosidade.

Moram longe, mas vivem dentro, aninhados nesse meu amor infinito. Verdade, que a saudade também mora comigo, mas não espeta dor aguda, queda-se calma e silenciosa confortando-me pela certeza de sabê-los em bem-estar. 

Como eu, tantas outras mães vivenciam essa realidade e aprendem a contornar o vazio com interesses múltiplos, mas sem nunca deixar de trazer os filhos presentes nos momentos de cada dia; é um filme que assistimos e nos lembramos do gosto de um deles, uma roupa na vitrine que, achamos ficaria perfeita na  segunda, um prato saboroso que é do agrado do terceiro...

Pra meu consolo, tenho aqui próximo de mim, o quarto filho com sua família amada, que me nutre de companhia carinhosa. Assim, vamos nós, mães de muitas léguas percorridas e cultivadas na perseverança e empenhadas na felicidade de cada filho(a) que temos.

Sou mãe de quatro filhos(as). Sou feliz!

* Recomendo uma visita ao blog mencionado(link acima). 😍 


terça-feira, 9 de novembro de 2021

Uma imagem / Um conto - novembro

"Visão do Rio"

Original pintado com a boca por Thomas Kahlau


Continuando a série promovida pela Norma Emiliano, de contos/prosas/poesias, inspiradas nas telas feitas com a boca ou os pés por pintores únicos.
 



Pela caixa de som seguia ritmada a música envolvente, em letra cadenciada, cantava o sonho de muita gente:

" ...Fui a pé a Salvador,

De joelhos ao Redentor,

Pra ver nosso amor abençoado.

Nosso lar se enfeitou

A esperança germinou,

Ah, tem muita flor pra todo lado..." 

Seria um sinal, aquilo que tão profeticamente ouvia? Poderia a música conter uma mensagem que só ela, Rosana, entenderia? Sem duvidar, agarrou-se à probabilidade e correndo programou uma visita ao outro lado da cidade. Subiria o Corcovado, chegaria aos pés do Redentor, conforme dizia a letra da canção e, ofertaria sua fé em intensa oração por seu amor escolhido.

Entregaria ao Cristo Abençoador todas as esperanças em um casamento feliz, onde reinasse a harmonia e o respeito a frutificar a nova família que se iniciaria mês seguinte. 

* (Trecho da música: Tá Perdoado)


segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Contato estreito com a natureza



De longe , não sou a pessoa mais indicada para discorrer sobre pesca de qualquer tipo. Nunca pesquei nada em lugar nenhum. Presenciei meu pai , meus tios, em algumas pescarias amadoras muito de vez em quando e sem maiores interesses.

 Foram em passeios de fim de semana com minha garotada que descobri os pesque-pague e pesque-solte( prefiro este último) em trechos demarcados do lago Paranoá. Por vezes curtimos tal programa.

Cresceram , mudamos e a atração ficou esquecida no tempo deles, até que neste  passeio pelo interior do Paraná, revi a prática sendo concorrida por visitantes dos muitos lagos nas propriedade rurais que a  oferecem, mas não só, por lá tem também o colha e pague nos mesmos moldes, abrangendo frutas, hortaliças e legumes cultivados em cada distinto sítio. 

Imaginei a alegria das crianças que tiverem acesso à atividade, o quanto aprenderão sobre os alimentos, seu cultivo, uso e benefícios nutricionais. É uma iniciativa que deveria estender-se por todas as áreas cultivadas nos entornos das cidades.

Com o físico e adepto da pesca fly, Marcelo Gleiser, descobri um pouco sobre as várias nuances filosóficas embrenhadas no contato direto com os oferecimentos da mãe-natureza.

"...Lancei, e em alguns momentos tinha outra truta na mão. Três trutas em três lançamentos, nunca havia visto isso em minha curta experiência com esse tipo de pesca. Mesmo assim, aprendi muito, em particular a respeitar o peixe do outro lado da linha. Peguei três trutas em quinze minutos, mas minha inexperiência fez-me perder a mais especial delas. Só aprendemos com humildade. E estava aprendendo, que era o que importava."

( Trecho-A simples beleza do inesperado-Marcelo Gleiser) 



quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Passeio inesquecível


 Cheguei de um passeio maravilhoso. Fui em excursão à Joinville, Curitiba e municípios vizinhos percorrendo o chamado turismo rural. Trago encantamento nos olhos e n'alma, mas, trago além disso, um sentimento de conforto emocional. Uma sensação palpável de confiança.
Reconheci, cheia de alegria,  a volta da normalidade aos trâmites cotidianos, embora, ainda mantendo precauções individuais, mas, percebendo o avanço das horas costumeiras a cada instante vivido. Isto não tem preço!


Lavandário 



Jardim das hemerocális ( vários espaços lindamente paisagísticos)


Lago no orquidário


Passeio de trem de Morretes à Curitiba ( dentro da mata Atlântica) 


A quantidade de fotos é enorme. A cada visitação coube o seu quinhão. Aos poucos virei mostrando aqui as belezas do sudeste-interior paranaense. 


💖💖💖