Hoje consigo entender melhor a ilustração de Atlas no grande livro de mitologia grega de meu pai.Aquele enorme gigante sustentando o mundo que me parecia pequeno demais sobre seus ombros largos.Numa careta estática, dava ele a impressão do grande esforço que fazia ao cumprir o castigo designado por Zeus, o de carregar os céus sobre os ombros por toda eternidade.
A legenda da ilustração não satisfazia minha curiosidade infantil ao apresentar uma esfera enevoada em estrelas e nuances azuis.Eu não me conformava com aquele desenho, afinal, se o céu era pra mim, o "teto" da Terra deveria ser representado por meia esfera e não uma inteira. Implicâncias pueris que foram mudando o foco a cada nova passagem contida naquele livro sedutor.
Atualmente sou capaz de jurar que a careta de Atlas sugeria o sofrimento por pinçamentos da cervical, naturalmente provocado pelo efeito do enorme peso que sustentava na região do pescoço/ombros.Uma consequência herdada por nós, seus mortais descendentes, curvados sob o peso das inúmeras preocupações e desprovidos da força atlante deste Titã; que nos resulta em incômodos frequentes, torcicolos e outros nós condicionados.
Conselhos, lições, receitas e muito mais nos orientam como suavizar tais dores e as seguimos obedientes, crentes e perseverantes, mas basta um imprevisto, um amuo e pronto, lá estamos com os céus nos ombros. Minha fisioterapeuta do Pilates já me adivinha quando chego me queixando dos famosos ossinhos e me põe logo em alongamentos dolorosos, porém eficazes, não sem antes me questionar pela enésima vez:"Que acrobacia vc andou fazendo pra criar esta parede de tijolos?"O pior, é que nenhuma.Ela amanheceu ali.Quando me deitei não havia nada, ai, ai!!
Traduzimos em nossos corpos os incômodos d'alma e isto, pra mim, faz parte da natureza humana.Tudo que requer tempo de solução se transforma num tijolinho que vamos carregando sem nos darmos conta inicialmente, mas em breve percebemos a parede que construímos e o quanto ela nos enverga sob seu peso.
Diz Jean-Yves Leloup:" A saúde da nuca consiste em poder olhar para cima, para baixo, para a direita e para esquerda e, às vezes, um pouquinho para trás...E isto simbolicamente, nos lembra que nossa inteligência deve permanecer flexível[..]"
O mito de Atlas representa o peso das dificuldades cotidianas que carregamos sobre os ombros, sobre Atlas, a 1ª vértebra da coluna cervical.
Sou a favor que livremos nossa Atlas de seu severo castigo e deixemos a nuca mais fresca e leve, neh!
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Imagem: eventos mitológicos.com
Calu,m tu és mesmo uma grande escritora, grande observadora da vida e tudo dela! ADOREI E eu,m tenho dias que cargo uma pedreira inteira sobre os ombros e nuca, acordo dura,rs...Tal o pedo das preocupações e problemas que nos aparecem...
ResponderExcluirTu sabes que ficamos avós novamente? No dia 8, dia da mulher, depois de 6 guris, chega a Marina! U*ma fofura! bjs, tudo de bom e parabéns pelo texto! Continuemos a aprender a aliviar as tensões, de um ou outro jeito! chica
Muito bom seu artigo, Calu, essa é a base da Psicossomática!
ResponderExcluirBjs
Muito interessante este texto! também quero deixar minha nuca mais fresca e leve...
ResponderExcluirBjs
Estudei esse mito com meu filho, e ele serve de lição para nós nos dias de hj.
ResponderExcluirbjokas =)
Oi, Calu, mas é a verdade mais pura o que você escreveu e tão bem! De vez em quando dá uma vontade de me mudar de mundo, para outras galáxias! rss O peso das preocupações, os pequenos incômodos diários são os responsáveis por doenças que nem imaginamos! Tenho pensado nisso, e muito.
ResponderExcluirBeleza de postagem.
Beijo!!
Oi, Calu!
ResponderExcluirDentro da psicologia, o tão famoso "Complexo de Atlas"...
Atlas um titã "condenado" por Zeus a carregar o mundo nas costas.
Bom repararmos em "condenado", mas porque fazemos isso voluntariamente?
Em geral, a pessoa centralizadora é na verdade uma pessoa carente emocionalmente que procura chamar a atenção pela eficiência - ocupar-se para não pensar nessa carência emocional. Isso sim, ato involuntário.
Delegar funções e fechar os olhos para as imperfeições do outro são aprendizados de vida.
Sejamos mais leves e felizes!
Beijus,
Quando bati os olhos na imagem, fiquei olhando parada por um momento, lembrava-me algo familiar, mas só fui saber quando li seu texto e lembrei do Atlas antigo que tinha lá por casa também.
ResponderExcluirEu não sabia o nome dessa vértebra e a ligação dela com a mitologia, super legal!
Faço sempre isto na minha vida, reservo um dia ou outro na semana, para relaxar as tensões, ficar de bobeira, olhar vitrines, tomar cafezinho fora, passear e olhar paisagens. A vida é dura na maioria das vezes e somos como um Atlas dos tempos modernos, mas, por sorte, não fomos condenados como ele, pobrezinho! RSSs
Beijos cariocas
Bom dia, Calu.
ResponderExcluirVocê transformou essa imagem e seu sentido em um maravilhoso texto.
Carregamos muito o peso do mundo em nossas costas, e esses "tijolos", vão aumentando sem sentirmos, é um fato tão comum no nosso mundo repleto de aflições.
Uma coisa é cuidar para que eles não cresçam mais, que o derrubemos assim que vistos, outra, é o alimentarmos até ficar uma parede intransponível, isso, pode parecer masoquismo, mas é uma escolha, talvez um momento necessário, um luto.
Com o tempo aprenderemos a condicionar as nossas emoções, a equilibrá-las e a rirmos de muita coisas que carregamos hoje!
Esse castigo não é fácil, bem penoso, mas quem sabe um dia nos libertemos?
A hora para isso sempre chega, no momento em que a autoestima diz um não bem sonoro de abalar os céus.
Parabéns.
Tenha um fim de semana de paz.
Beijos na alma.
Uma bela arte para inspirar, devanear, o que você belamente se embrenhou como um índio mata a dentro na caça.
ResponderExcluirQue reflexão bela dos pesos que temos e carregamos e ainda dos que estranhamente colocamos sobre nossos ombros.
Aplausos Calu em arte e cultura. Um combo perfeito.
Não poderia deixar de ler.
Abraços com carinho.