Hoje meu pantheon está mais crepuscular.Paira sobre ele um assombreamento incômodo, daqueles que conseguimos sentir, mas não avistamos por completo.Desconfio que o meu não seja o único a estar com esta configuração.Creio que grande parte dos panteões pessoais dos brasileiros estão em iguais condições, meio vazios, meio sem brilho.Me sinto um tanto órfã de herói, abandonada na longa estrada deserta e sem placas indicativas, sem lenço, nem documento.O tal do imprevisto ataca novamente e apesar da lógica que o norteia, a sensação de desamparo não me anima a encarar positividade na situação.
A escolha feita, em pleno direito por um dos meus heróis, me fragiliza frente ao futuro, ao exercício duma justiça realmente igualitária e democrática e, abre mais um fosso no já tão castigado torrão nacional.O cenário jurídico perde um de seus célebres e, nós o povo, "perdemos" um homem de bem.
Recebi por email um texto bem a propósito no assunto e o trago pra compartilharmos aqui as questões que pairam sobre a aposentadoria.Se é o tempo correto. Se é necessidade urgente. Se é uma ameaça ou uma promessa.O que "ela" representa para cada um(a)?
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Hora de Partir
Qual é a hora exata de partir? Difícil, muito difícil precisar esse "timing". Arriscaria dizer aqui que é quando o desconforto e uma sucessão de pequenas frustrações se sobrepõem ao bem-estar e à frequência do riso. Mas aí tem o coração no meio, atrapalhando tudo, atrasando as partidas, soprando esperanças de que amanhã tudo pode voltar a ser colorido e dizendo que as sintonias são assim mesmo intermitentes. Melhor não dar muito ouvidos a esse crédulo desvairado. A hora de partir é uma decisão, e decisões são tomadas com a cabeça, sem impulsos, sem pontos vulneráveis. Exigem que se pense, que se avalie, que se quantifique e, sobretudo, que se enxergue a realidade dos fatos. Não há nada mais concreto do que fatos. Adiar partidas para a hora do crepúsculo, para o momento em que os desejos começam a anoitecer ou a ser anoitecidos à nossa revelia é muito pior. É melhor sair enquanto emitimos alguma luz, enquanto pudermos, pelo menos, deixar na saída motivos para que sintam a nossa falta. Somos nós que determinamos o nosso próprio tamanho e o tamanho da nossa importância.
Sim, é doloroso sair de cena, se despedir de um espetáculo, de um sonho, de um laço ou de qualquer história que nos aqueça o coração. Porém, mais doloroso é assistir ao ocaso dos sentimentos, é esperar por algum gesto ou alguma palavra que não vai acontecer ou reacontecer. Mais doloroso é chegar no "tanto faz". Mais doloroso é deixar que o tempo nos transforme, aos olhos do outro (ou vice-versa), em alguém comum, banal, qualquer. Não, isso não. Melhor sermos uma grande memória do que um pequeno fato que enfraquece e não mais consegue mover moinhos ou surpreender. Mas dói, e como dói... O único consolo é que, se a dor já for uma velha conhecida nossa, saberemos como lidar com ela até iniciarmos uma nova história (ou não).
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Obs: Não achei a autoria, apenas a referência vinda no email: www.quelquechose.net