Pra quebrar o gelo no primeiro dia de aula em turmas da EJA, as professoras chegavam em sala de aula munidas de grandes caracteres japoneses recortados em cartolinas coloridas e os distribuíam entre os alunos da turma pedindo que eles tentassem adivinhar a qual letra comparativa do nosso alfabeto eles pertenceriam.A brincadeira tinha o objetivo de descontrair a turma, mostrando que todo mundo é analfabeto em alguma coisa ou em mais de uma e que isso é perfeitamente normal e solucionável.
Eu sou analfabeta em língua japonesa, em mandarim, em italiano,hiiiii, se eu continuar irei encher a página com minha comprida lista do que não conheço e do que até gostaria de conhecer melhor, porém, ainda não houve da minha parte um movimento na direção desses conhecimentos.Descaso, falta de tempo, de motivação?Pode ser tudo junto claramente identificado como desinteresse, o que me causa certo amuo, mas não chega a me perturbar.Diferentemente de outro desconhecimento meu, que me incomoda, me causa mal-estar, aumenta meus desagrados e me entristece...sou analfabeta da confiança nas instituições do meu país.
Tenho consciência disto e já me inscrevi inúmeras vezes na turma de aprendizes.Já me esforcei, busquei, pesquisei, ouvi atenta as muitas declarações dos entendidos ( ao menos assim se intitulam), estudei, prestei exames, mas não tive qualquer sucesso até hoje.Não domino o sentimento de confiança na classe política brasileira, não decodifico seus signos, não estabeleço relações e me frustro a cada tentativa, que me distancia sempre e mais do meu objetivo.Desenvolvi, isto sim, um sentimento de estranheza que ultrapassa e muito minha altura e ganha os ares com a rapidez dum jato supersônico.
Percebo que há muita gente no mesma turma que eu, e que se esforça pra adquirir o conhecimento nessa matéria, mas é reprovada ano após ano e acaba por evadir-se da escola da democracia, o que eu lamento verdadeiramente.A enorme lacuna causada pelo analfabetismo nessa área tem dimensões gigantescas que aumentam dia-a-dia.Como termos confiança na saúde pública, na educação, na segurança pública, nas providências urgentes, nos planejamentos a longo prazo, nas resoluções para melhorar a vida nas grandes cidades, no empenho pelo bem-estar social, na valorização da vida, no respeito aos direitos do cidadão, na própria cidadania?Como?
Receio estarmos longe de nos formarmos nessa importante matéria.O que nos consola, como saída é que nós, seguimos nos formando em muitas disciplinas seletivas que nos capacitam em esperança e persistência.
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