O que nos salta aos olhos nem sempre ressoa n'alma. São bem maiores as quantidades das horas do dia pelas quais passamos distraídos e, até mesmo, indiferentes ao que nos cerca do que aquelas que nos apontam algum interesse; agrava-se tal constatação quando estamos inseridos na rotina urbana.
Buscando refrigérios para mente e para o espírito, algumas leituras trazem lentes de aumento para nosso velho e conhecido cotidiano.
Lendas têm o condão de fazer-nos viajar sem sair do lugar.
O sentido do respeito
( lenda japonesa)
Certo dia, um monge do templo Daitokuji, amigo íntimo do filósofo Sotan, mandou um jovem ajudante entregar a Sotan uma haste particularmente bonita com botões de camélia branca. No caminho, contudo, o botão principal caiu do caule. Depois de pesar as alternativas, o garoto decidiu entregar o caule e o botão caído e pedir desculpas por seu descuido. O respeito inerente no sentimento do jovem ajudante é exemplar; demonstra a reverência por objetos comuns. Mas, ainda notável foi a reação de Sotan: ele colocou o caule num vaso, dependurou o conjunto na coluna do nicho Tokonoma* e depositou o botão no piso do nicho. Desse modo, por respeito à consideração do amigo, ao esforço do jovem e à própria flor; a camélia se revestiu de vida nova no reino da chanoyu*.
" A beleza está nos olhos de quem vê!"
*(1)_ espaço embutido numa sala de recepção
*(2)_ a cerimônia do chá( Caminho do chá)