Ao olhar, mais que ver, sentir a pertença àquele lugar, é graça, é completude próxima de um arrebatamento que dispensa explicação. Todo sentimento despertado lampeja em fração de segundos, despeja uma certeza até então desconhecida e traz à vista o quê fala a sensação.
De onde surgiu essa voz que só a mim é audível? Como essa vibração acelerou meu pulso, meu passo distraído, minha intuição? Serão visões do passado? Serão lembranças de alguém? Serão histórias lidas ou não?
Parei de indagar, afinal, de que me serve saber para além do fundamental que me diz pleno de convicção que:
___Sim, reconhece-te nesta plaga. Faz-te parte das folhas, das copas, do vento. Vista-se das gramíneas. Banhe-se na luz esmiuçada nos troncos. Abrace a paz estendida em mesa farta e saboreie a grandeza da criação.
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Canção do Caminho
( Cecília Meireles)
Por aqui vou sem programa, sem rumo,
sem nenhum itinerário.
O destino de quem ama é vário,
Como o trajeto do fumo.
Minha canção vai comigo.
Vai doce.
Tão sereno é seu compasso,
que penso em ti , meu amigo.
Se fosse invés da canção,
Teu braço.
Ah, mas logo ali adiante,
___Tão perto,
acaba-se a terra bela.
para este pequeno instante,
decerto,
é melhor ir só com ela.
(Isto são coisas que digo,
que invento,
Para achar a vida boa...
A canção que vai comigo
é a forma de esquecimento
do sonho sonhado à toa.)