Entre leituras e reflexões, parei nesse texto da Fernanda Santos, tão falante a mim no atual momento.Sigo em tempos de aprendizados novos.
A gente demora muito tempo para aprender a ser livre. Passamos parte da vida nos amarrando a conceitos, a medos estabelecidos, com ou sem fundamento, construindo pontes para não cair na lama, sonegando alegria, regulando os termômetros das sensações. Isso sem contar as inúmeras vezes em que deixamos de ser ou fazer por receio do julgamento alheio, nos tornando assim perversos juízes de nós mesmos. Quanto mais sufocados, mais exigentes. Quanto mais exigentes, mais implacáveis nos atos de compreensão de si e do outro. Menos consideração, menos perdão, mais raiva do mundo. Tudo por nada.
Daí que é preciso aprender (ou reaprender) a ser livre, antes que a manhã seguinte mate de vez a delicadeza que nos resta. Então é necessário ter coragem para destruir medo por medo, libertar cada ser que tomamos como refém, resgatar sonhos socados nas vísceras.
Trata-se de um processo longo e dolorido, pois não sabemos o que restará ao abrirmos mão das bases sobre as quais sobrevivemos por tanto tempo. Quem garante que não morreremos soterrados nas próprias ruínas? Fato é que, enquanto desaba uma parte do que acreditávamos ser, renasce outra que supúnhamos não existir. Junto com esta ressurgem sentimentos de profundo respeito por si e pelo outro, e se diluem inquietações, culpas, fantasmas, crenças, falsas raízes.
Somos indivíduos em busca da felicidade e ela está no que somos na essência. Redescobri-la é uma questão de tempo e há que se respeitar o tempo de cada um, já que estamos em níveis diferentes de aprendizado. Um dia desses, peguei a estrada, coloquei o som bem alto e fui dar um mergulho no mar. Voltei agradecida, em paz. Reencontrei minha leveza e delicadeza perdidas num passado remoto. Foi o fim de um longo processo.
Parafraseando a brilhante escritora Ana Jácomo, voltei desejando que nenhum gesto meu aperte o coração de alguém, intimide o sorriso, desperte medos ou machuque a espontaneidade de quem quer que seja. E assim entendi que liberdade é libertar.