segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Tessituras Amorosas








Ao ler o comovente post da Ana Paula, ladodeforadocoração.blogspot, voltei num lufada de vento antigo aos tempo idos e queridos da minha primeira gravidez.Tudo recentemente novidadeiro e um tanto perturbador.O desconhecimento, as mudanças rápidas em todos os quadrantes do corpo, perguntas orbitando o pensamento e poucas respostas sólidas pra a inexperiência sentida, preencheram aqueles dias de muita inconstância.Longe da família, longe da cidade familiar, tudo era novo e também desconhecido.

Aos pouquinhos meu novo mundo se apresentava trazendo a cada dia um motivo a mais para cada descoberta.Em meio a tudo isto, tive uma recepção calorosa pela mulheres da vizinhança.Fui ternamente abraçada por elas com seus sorrisos cativantes, suas palavras confortadoras, suas mãos generosas a me ofertarem o carinho que lhes era nato.Mulheres maduras, mulheres jovens, mães experientes que me trouxeram ao colo e me acalmaram as dúvidas.Mulheres fortes, vigorosas a me servirem de exemplo constante e inesquecível. Mulheres cuidadoras da sua própria prole e da de todas. De repente, minha casa encheu-se de risadas, de confidências ressoadas, de conselhos na antiga sabedoria da vida, de pezinhos lépidos e arteiros, de horas prenhes em fértil convivência feminina.

Essas mulheres, que fazem parte da minha galeria afetiva, que repousam na minha cálida memória de sempre, guardadas no coração e nos álbuns das fotos da família; essas mulheres me ensinaram a tecer.Em suas mãos ágeis eu via, encantada, surgirem peças delicadas de formas, cores e tamanhos que me pareciam verdadeiras obras de magia.Pois, em pouco tempo eu também fui capaz de fazer magias iguais àquelas que me foram ensinadas com afeição traduzida nas laçadas das horas reunidas.

Minha primeira criação foi uma manta vermelha em lãzinha antialérgica macia e delicada pra minha neném que ia chegar, embora na ocasião eu não tivesse a menor ideia do sexo, o que jamais modificou o carinho e o amor presente em cada ato, em cada detalhe da espera.Em dois meses estava pronta e eu exibia toda orgulhosa o resultado da minha arte simples e amorosa.A ocasião mereceu até comemoração com um farto café da tarde cheio de ainda mais guloseimas do que as habituais, só pra não perder a oportunidade de mais um encontro festivo.

Essas mulheres, fontes reveladas da sintonia Universal que nos constitui alma e coração irmanados em permanente profusão de amor, de cuidados, de energia renovadora e força restauradora da harmonia natural, me acolheram e alimentaram a alma sedenta.

Aqueles raros dias de feliz convivência bordaram em mim belos aprendizados dos quais jamais me esqueci e, parafraseando o lindo desfecho dado pela Ana Paula no texto inspirador, repito:

"Segui com olhos  de encanto e não desisti." 


~~**~~**~~



* Não tenho, no momento, acesso aos álbuns de família, por isso não foi possível postar a foto da referida manta.



Imagem: google

7 comentários:

  1. Que maravilha esses elo da corrente nos blogues.

    Adorei lá na Ana Paula e tua inspiração vinda de lá. também ficou maravilhosa! E que linda essa acolhida dessas mulheres nesse período tão lindo e importante na tua vida! Adorei e pena não tens a foto mas a imaginamos! bs, linda semana,chica

    ResponderExcluir
  2. Calu, esse elo, e não o meu e o teu, e sim esse elo entre os blogs é uma importância singular para nossa saúde mental, para a saúde de nossa memória. Quando somos despertados sobre um assunto e novas lembranças e novas conexões se formam em nosso cérebro, isso é maravilhoso! Aguçamos todo esse processo e ainda somos beneficiados emocionalmente. Revisitar esses recônditos que já vivemos um dia, e talvez lá houvesse inclusive medos, incertezas e hoje podemos olhar como foi bom, acolhedor e fez tudo ficar melhor.
    Tua narrativa me transportou para uma sala cheia de mulheres trocando experiências, sorrisos, dificuldades, mas sabendo-se que podiam contar umas com as outras.
    Adorei!

    ResponderExcluir
  3. Um lindo relato querida! Reportou-me ao nascimento de João,pois o tive com menos de 7 meses em Faro Portugal a 30 km da vila que moravamos. Tive um bom acolhimento e nunca esqueci disto. Um bom dia para ti,beijinhos

    ResponderExcluir
  4. Teve, portanto, uma gravidez aconchegante e feliz. Não guardo recordações tão belas da minha única gravidez, à excepção dos chutes na barriga que me enchiam o coração de amor. O pós-parto então foi bastante chato e, para piorar, tive em casa a minha sogra que se esperava viesse ajudar mas, enfim...
    Um dia tem que partilhar connosco a foto dessa maravilhosa manta, tecida com as próprias mãos.
    Beijinhos, uma linda semana primaveril
    Ruthia d'O Berço do Mundo

    ResponderExcluir
  5. Calu, sua sensibilidade lhe possibilitou esse lindo texto. Há uma gratidão muito bela em suas palavras. Não sou mãe, mas estou certa de que essa acolhida, esse abraço, esses ensinamentos ... tudo que recebeu, passou para outras tantas mulheres que encontrou em sua vida, na mesma situação em que se encontrava, à época. Bjs.

    ResponderExcluir
  6. Momentos que passou inesquecíveis e belos. Muito bom recordar fatos que trazem a lembrança de dias alegres e felizes.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  7. Adorei o puxadinho do post vizinho
    Com sensibilidades e vivências gêmeas

    Não tive vizinhas, nem amigas a me visitar, ajudar
    De mulheres que me cuidaram e guiaram tenho as de minha infância
    Como mãe, até hoje tenho poucas conselheiras e parceiras, uma delas, a Ana

    ResponderExcluir

Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!