sexta-feira, 10 de abril de 2015

Uma pausa no turbilhão das horas







Uma pausa na turbilhão das horas

Em meio a devaneios soltos na paisagem, a cenas conhecidas e outras antevistas, em todas as costuras tem o tempo, meticuloso alfaiate, agulhas e linhas extensas a tecer e (re)tecer os panos da vida.


   Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo- o passado, o presente e o futuro-, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente? O presente é tão incompreensível como o ponto, pois, se o imaginamos em extensão, não existe; temos que imaginar que o presente aparente viria a ser um pouco aparente viria a ser um pouco o passado e um pouco o futuro. Ou seja, sentimos a passagem do tempo. Quando me refiro à passagem do tempo, falo de uma coisa que todos nós sentimos.Se falo do presente, pelo contrário, estarei falando de uma entidade abstrata. O presente não é um dado imediato da consciência. Sentimo-no deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo:"Detém-te!És tão belo...!",Como dizia Goethe. O presente não se detém.
Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo.O presente contém sempre uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.

Jorge Luis Borges,in:"Ensaio: o tempo"

Por tudo o que se sabe e também pelo que não, dou corda no relógio dos tempos antigos ao recordar um dia do outono passado em céu límpido e inspirador com claridades alternadas tipo as de ontem, tipo as de agora, marcos desta estação que considero especial.Nesse tempo me revigoro, animo, motivo sem escalas. Reúno com vagar as belezas de cada dia, as cores e luzes que só no outono são vistas.


Aproveite o convite outonal
e, se lance sem medidas 
ao ritmo que há.
Aprecie os detalhes,
a paisagem, as pessoas,
semblantes desenhados
em idas e vindas.
Toda a vida á tua volta
te convida a sentir;
sinta o vento, o sol friinho,
o ar ameno, a folhagem, 
o firmamento...
Sinta-se parte, sinta-se todo
com o ambiente, a natureza,
 a te acolher, abraçar,
em tons fartos
no outono do lugar.
(Eu)

Pra fechar a pausa com nuances mais poéticas, segue um trecho da Cecília, amante do outono como eu:


..."Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento
menos que as folhas do chão..."

( Cecília Meireles, in:Canção de Outono)






Fontes: citador.pt
imagem_ tumblr





10 comentários:

  1. Adorei tudo que você escreveu xará,principalmente o texto seu que é um convite
    para apreciarmos tudo que é belo e está ao nosso redor.
    Obrigada amiga pelos cumprimentos e um ótimo final de semana.
    bjs-Carmen Lúcia.

    ResponderExcluir
  2. Olá, querida Calu...
    O Outono tem sido agradável e tem trazido leveza ao meu espírito...
    Seu post só veio confirmar o que venho experimentando...
    Que permaneça assim e tons tênues!!!
    Bjm pascal

    ResponderExcluir
  3. Gostei de ler tudo, como sempre aqui, mas teus versos são lindos e me encantam sempre! bjs, chica lindo fds!

    ResponderExcluir
  4. Nessa vida louca, devemos aproveitar os obstáculos como degraus, discernir a loucura sensata, enfrentar o paraíso, encontrar a paz no turbilhão de conhecimentos e descobertas...
    Muito bom o texto. AbraçO

    ResponderExcluir
  5. Olá Calu,

    Interessante a filosofia de Jorge Luis Borges sobre o tempo.
    O Outono é mesmo uma estação linda, romântica, aconchegante e lhe trouxe belos devaneios poéticos.
    Lindos os seus versos. Que outono inspirador, hein?
    Também lindos os versos da Cecília Meireles.
    Bela postagem.

    Ótimo final de semana.

    Beijo.

    ResponderExcluir
  6. Olá, Boa noite, Calu
    Tudo lindo...
    também sempre fui dessa opinião, Jorge Luís Borges, a de que vivemos algures no meio de algo , a tentar agarrar uma coisa que nem sequer existe, o pender da balança de ambos os lados ... "o presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo" e se não o sentimos é porque estamos ocupados a viver..."Aproveitando o convite outonal, ao ritmo que há..."
    Agradecido, feliz final de semana, beijos!

    ResponderExcluir
  7. Calu, que bela postagem! Às vezes penso que o presente nunca está presente (rss), pois se vamos falar sobre vivência, ou os fatos já aconteceram ou ainda são sonhados. O outono, em visual, é a mais bela estação. Estamos acostumados com as flores da primavera, mágicas, mas as cores outonais fecham tudo com ouro. Há ainda o outro lado, a renovação. Todas as folhas que vão ao chão serão substituídas. Os galhos secos, que nos lembram esqueletos, são uma inspiração visual encantada, pois não exibem tristeza. Você construiu versos muito belos para um convite irrecusável. Bjs.

    ResponderExcluir
  8. Uma boa postagem. O seu convite à reflexão sobre o que mais importa na vida, casa perfeitamente com o poema da grande Cecília Meireles.
    Um abraço e bom Domingo

    ResponderExcluir
  9. Um lindo canto ao Outono com sua arte bela de expressar
    na arte de buscar a reflexão atrelada aos movimentos da natureza.
    As referencias estão otimas com as genialidades de cada um.
    Uma bela postagem para inspirar neste Outono.
    Gostei Calu.
    Carinhoso abraço e uma bela semana a voce.

    ResponderExcluir
  10. Boa tarde Calu, excelente a sua reflexão interligando de forma sublime o texto citado com o seu belíssimo poema e o de Cecília!
    Que o seu outono seja muito iluminado e colorido.
    Um beijinho e boa semana.
    Ailime

    ResponderExcluir

Teu comentário é o fractal que faltava neste mosaico.
Obrigada por tua presença querida!