Lendo o post da amiga, Beth Lilás(link), do supremamaegaia.blogspot, na série: "Vou de táxi -VI", o depoimento, quase uma entrevista, do taxista que na corrida com a gentil passageira, dispôs-se a contar sobre sua vida, seus sonhos e conquistas revelando-se um ser humano digno de reverência num mundo onde os valores materiais, os apelos ao ter bem maiores do que ao ser, são maioria, encontrar-se com pessoas íntegras e fiéis aos seus princípios é mesmo um contentamento.
E foi esta inspiração que me fez lembrar dum episódio que vivemos numas férias em Olivença, praia das Alagoas. A família toda curtindo um mês de julho bacaninha em 1988, sol gostoso, água morninha, e gulodices de estalar a língua, dia após dia de puro entretenimento.Meus garotos com a idade de 10 e 8 anos respectivamente se esbaldavam desde que o dia amanhecia até a noite quando eu tocava o toque de recolher(rsrs).As meninas, com um pé, quase dois na adolescência, já não se interessavam por brincadeiras infantis e curtiam ouvir suas músicas, caminhar pela areia...típico interesse da fase, enquanto isso, os garotos logo fizeram amizade com a meninada local e todo dia jogavam futebol na areia, mas longe dos banhistas, claro.
O meu caçula sempre foi bom de bola, ao menos assim ouvíamos dos adultos(pais) entendidos e ele de fato fazia diferença no time que jogasse. Vejam vocês, que desde os tempos da educação infantil no colégio, ele e mais cinco amiguinhos de turma formaram um time imbatível que se manteve junto até a 7ª série do fundamental II.Eles eram muito requisitados e representaram o colégio em muitas competições inter-colegiais do DF.
Bom, voltando a cena da praia, já no dia seguinte a meninada do lugar nos esperava todas as manhãs, a nós não, ao meu craque, que tomava café todo apressado pra ir correndo jogar futebol. O clima de camaradagem era total.Muito papo, boas convivências e tal.Num destes dias, estava meu marido tomando seu aperitivo e conversando com o dono da barraquinha da praia que entre filosofias futebolísticas e elogios ao meu caçula ( o que deixava o pai todo sorridente), lhe contou sobre a vida de um seu sobrinho.Um craque da bola desde garoto.Fazia milagres com a redondinha.Jogava na praia, em pequenos campeonatos na cidade e em outras vizinhanças.Numa destas foi descoberto por olheiros que o levaram pra Salvador.Como ainda não tinha dezoito feitos, o pai o acompanhou e dava todo incentivo pra que ele seguisse carreira, porém ele dizia que o futebol era sua distração, mas o que queria mesmo era ser caminhoneiro.Dirigir um daqueles caminhões enormes pelas estradas.Ninguém na família levava muito em conta este arroubo juvenil, achando que logo ele se efetivaria no clube e com o dom que possuía seria uma celebridade no país do futebol.
Passaram-se dois anos, o jovem já conhecido em todo estado, encantava o público na Fonte Nova e também os olheiros do resto do país que começavam a disputar seu passe. Disse o tio, que fizeram ofertas tentadoras, em cifras, a ele.Aceitou uma, mas com a condição de que seu contrato fosse de apenas um ano.Veio para o Rio vestindo a camisa de um grande time.Cumpriu seu contrato com brilhantismo e ao fim de um ano, despediu-se do clube, retornou a sua cidade, comprou uma casa para os pais e um baita caminhão.Saiu estrada a fora vivendo seu sonho realizado,todo satisfeito.
Não é estória e sim, história de fato, de pessoas que não se deixam encantar pela mosca azul e carregam em si a certeza de que seus sonhos, sejam simples ou ousados, lhes bastam pra uma vida plena e íntegra. A isto eu chamo,felicidade!
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Bom fim de semana pra vcs!
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Imagem: hiperativo.com(menino+futebol)