Não é de hoje que venho convidando todos vcs a visitarem sua criança-interior.De quando em vez, despirem-se das árduas vestimentas da razão e assim libertos(as) sentarem-se á uma sombra acolhedora( no verão é aconselhável) e rumarem para as boas terras da infância, revendo as doces memórias e reconstruindo os bons planos que foram tecidos entre brincadeiras festivas.
Com a minha feliz descoberta através duma entrevista na TV, do poeta e escritor português Álvaro Magalhães, transcrevo aqui um trecho da obra: O Brincador, verdadeiro manifesto poético ao melhor de nós mesmos: nossa essência infantil.
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«Quando for grande, não quero ser médico, engenheiro ou
professor.
Não quero trabalhar de manhã à noite, seja no que for.
Quero
brincar de manhã à noite, seja com o que for.
Quando for grande, quero ser um
brincador.
Ficam, portanto, a saber: não vou para a escola aprender a ser um
médico, um engenheiro ou um professor.
Tenho mais em que pensar e muito mais
que fazer.
Tenho tanto que brincar, como brinca um brincador, muito mais o
que sonhar, como sonha um sonhador, e também que imaginar, como imagina um
imaginador…
A mãe diz que não pode ser, que não é profissão de gente
crescida. E depois acrescenta, a suspirar: “é assim a vida”. Custa tanto a
acreditar. Pessoas que são capazes, que um dia também foram raparigas e rapazes,
mas já não podem brincar.
A vida é assim? Não para mim. Quando for grande,
quero ser brincador. Brincar e crescer, crescer e brincar, até a morte vir bater
à minha porta. Depois também, sardanisca verde que continua a rabiar mesmo
depois de morta. Na minha sepultura, vão escrever: “Aqui jaz um brincador. Era
um homem simples e dedicado, muito dado, que se levantava cedo todas as manhãs
para ir brincar com as palavras.»
Álvaro Magalhães
Imagem: Weheartit.com